Título: Para confundir
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 02/02/2006, O GLOBO, p. 2

A cobra da sucessão está fumando também dentro do PMDB, onde o grupo pró-Lula ainda não desistiu de melar as prévias marcadas para 19 de março. Agora estão articulando o lançamento de um terceiro candidato para disputá-las com Germano Rigotto e Garotinho. A eleição interna fatalmente iria para o segundo turno e ficaria mais fácil contestar sua legitimidade alegando, por exemplo, baixa participação dos eleitores.

Um dos nomes cogitados é o do governador de Brasília, Joaquim Roriz. Mas o próprio presidente do Senado, Renan Calheiros, já admitiu a hipótese de se apresentar. O que este grupo pretende mesmo é deixar o PMDB sem candidato próprio, o que empurrará a maioria das seções estaduais para o palanque do presidente Lula, ainda que o partido não lhe dê apoio oficial. Plano B: se Rigotto ganhar as prévias, será mais fácil tirá-lo da disputa se Lula se tornar favorito ou muito competitivo.

Enquanto eles preparam o próximo lance, Garotinho segue visitando o desconhecido universo de 21 mil eleitores habilitados a votar nas prévias e o governador gaúcho Germano Rigotto continua a se articular com os caciques do partido. Hoje mesmo em São Paulo ele vai se reunir com os líderes do PMDB paulista liderados pelo ex-governador Orestes Quércia e o presidente nacional do partido, Michel Temer. O deputado Delfim Netto, agora um notável do PMDB paulista, acredita que Rigotto ganhará as prévias e que será capaz de unir o partido no primeiro turno. Sua candidatura acabaria funcionando como um pólo aglutinador para os mais de 15 candidatos a governador, os tantos concorrentes ao Senado e à Câmara dos Deputados. Sua presença no páreo ajudaria a forçar o segundo turno. Apoiando Lula ou rachando no segundo turno (isso é que é mais provável), o partido já teria se tornado uma força poderosa. Teria conquistado pelo menos dez governos estaduais e muito provavelmente teria a maior bancada na Câmara. Um partido imprescindível ao futuro governo, seja quem for o presidente, neste país em que os governantes parecem fadados a não tirar a maioria parlamentar aliada das urnas.

O plano é ardiloso mas depende de algumas variáveis. Primeira delas, combinar com os eleitores. Primeiro, com os das prévias. Pois se Rigotto tem mesmo alguma chance de unir o partido, caso o vitorioso seja Garotinho tudo será diferente. Sem verticalização, cada seção fará as alianças que quiser e algumas poderão cristianizá-lo (coisa que o partido já fez com Ulysses e com Quércia) para apoiar outro candidato.

Lula, por seu lado, não desistiu de ter o apoio do partido, ainda que parcial e informal, em alguns estados. Mas do apoio oficial, com um peemedebista no papel de vice, a briga de foice dentro do partido sugere que deve desistir.