Título: RETRANCA PETISTA
Autor:
Fonte: O Globo, 02/02/2006, Opinião, p. 6

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT, como qualquer pessoa física ou jurídica, devem sempre recorrer à Justiça na defesa de direitos que considerem agredidos. É do jogo de uma sociedade aberta o amigo de Lula, Paulo Okamotto, socorrer-se do Supremo Tribunal Federal para evitar a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico.

A história da origem do dinheiro usado por Okamotto para resgatar uma dívida pessoal de Lula com o PT continua envolta em névoas. Mas se o plenário do Supremo, no julgamento final da liminar concedida pelo presidente da Corte, Nelson Jobim, confirmar a tese de que a CPI dos Bingos ultrapassou limites legais ao pedir a abertura desses sigilos, assim será.

A aceitação do pedido de liminar deve ter sido comemorada como importante vitória em hostes petistas e no Palácio do Planalto, onde há muito tempo se critica a abrangência de atuação da CPI, controlada pela oposição. A liminar de Okamotto pode ser o marco da contenção da CPI.

Mas algum preço político PT e governo terão de pagar. Pois a liminar reforça a imagem negativa de quem faz o possível para criar obstáculos às investigações do escândalo do valerioduto delubiano e variantes. Vem de algum tempo o adestramento petista em levantar obstáculos para retardar o esclarecimento de casos em que militantes podem ser apanhados em delito. O exemplo mais rumoroso é o do seqüestro e morte de Celso Daniel, prefeito de Santo André, o escolhido para coordenar a montagem do programa de governo do candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

Até hoje, a história continua confusa, sem que o PT tenha agido para elucidá-la. O partido se apóia na conclusão da polícia paulista de que foi um crime comum, com o que discorda o Ministério Público. Mas diante de fatos estranhos em torno desse assassinato, como as torturas que comprovadamente sofreu Celso Daniel, suspeitas se mantêm no ar.

A atitude defensiva do partido também é observada nas CPIs ¿ o que é natural por causa dos embates político-eleitorais. Muito já poderia ter sido elucidado, no entanto, se parlamentares petistas agissem como se estivessem de fato interessados em colocar o escândalo em pratos limpos.