Título: MAIS GARAGENS SUBTERRÂNEAS SÃO ALAGADAS
Autor: Daniel Engelbrecht
Fonte: O Globo, 02/02/2006, Rio, p. 16

Água invade a Subprefeitura da Zona Norte e o estacionamento de um supermercado

Desta vez, nem a Subprefeitura da Zona Norte foi poupada. Situada perto do Rio Tingui, em Guadalupe, a sede da subprefeitura sucumbiu à enchente e teve a garagem subterrânea totalmente inundada com o temporal de anteontem. O Corsa do subprefeito, Antônio Carlos Gonçalves, ficou submerso. O nível da água na Rua Luiz Coutinho Cavalcanti chegou a 1,5 metro. Funcionários e o subprefeito buscaram abrigo no segundo andar do prédio.

A menos de 500 metros da subprefeitura, moradores da Favela do Muquiço, ao lado do Rio Tingui, também sofreram com a enchente. O rio, que vem da Zona Oeste e passa por Guadalupe, transbordou e acabou levando casas inteiras e barracos construídos em suas margens. Com lágrimas nos olhos, a dona-de-casa Regina Antônia de Jesus disse que a água chegou a amassar um portão de ferro:

¿ Perdi tudo, até documentos.

Em Vila Valqueire, 35 carros de clientes ficaram submersos no estacionamento subterrâneo do supermercado Guanabara, na Estrada Intendente Magalhães, durante o temporal de anteontem. Indignados com o fato de só terem sido avisados pelos funcionários quando já não dava mais para pegar os carros na garagem, os clientes registraram queixa na 30ª DP (Marechal Hermes). A direção do estabelecimento se comprometeu a cobrir os prejuízos. Aleksandro da Silva diz que, além de seu carro, um Monza sem seguro, perdeu um laptop que estava no banco do carona.

Ontem de manhã, após horas de terror vividas na noite anterior com a chuva, moradores da Favela do Muquiço e de ruas próximas ao Rio Tingui passaram o dia retirando lama e jogando no lixo móveis e eletrodomésticos perdidos na enchente. Nas ruas Roberto Constantinesco e Engenheiro Magno de Carvalho não se conseguia distinguir lama de asfalto. Uma banca de jornais chegou a ser arrancada do chão e arrastada por cem metros. Para Paulo Soares de Oliveira, morador da Engenheiro Magno de Carvalho, só restou se lamentar:

¿ Não tenho mais nem comida na geladeira. O que vou fazer agora?

Moradora da Favela do Muquiço há trinta anos, a dona-de-casa Braulina de Souza disse que nunca viu enchente igual em Guadalupe. Segundo o subprefeito Antônio Carlos Gonçalves, o rio não é dragado pela Serla há muito tempo. Já foi feito um orçamento na prefeitura para fazer uma nova ponte mais alta sobre o rio, o que faria a água escoar mais rapidamente em caso de enchente, mas não há previsão para o início da obra.

Em Sulacap, um canal transbordou e alagou várias ruas. O primeiro andar de vários blocos de um condomínio na Rua Oton da Fonseca foram alagados e carros, danificados.

¿ Sentimos na pele o que moradores de comunidades carentes sofrem em todas as chuvas ¿ contou Cleonice Ferraz.

A região de Jacarepaguá foi atingida duplamente. A elevatória de água da Reunião, no Tanque, foi invadida por uma enxurrada de água e lama levada pelo temporal. Por causa do acidente, que alagou a elevatória, dois grupos de bombas foram danificados e deixaram de funcionar. Com isto, foi prejudicado o fornecimento de água a parte do Tanque, da Taquara e da Praça Seca. No início da manhã de hoje, as bombas de reserva já devem estar prontas para operar. A previsão da Cedae é que o fornecimento seja normalizado a partir das 12h de hoje.