Título: O mapa das inundações
Autor: Daniel Engelbrecht
Fonte: O Globo, 02/02/2006, Rio, p. 16

Levantamento da Serla identifica 83 pontos onde rios correm risco de encher

ARegião Metropolitana do Rio tem 640 pontos suscetíveis a enchentes, 83 deles na capital. Os números constam de um levantamento da Serla, que mapeou a situação dos principais rios e os motivos dos transbordamentos em cada trecho. A ocupação desordenada de encostas e margens é apontada pelo presidente do órgão, Ícaro Moreno, como a principal causa do assoreamento dos cursos hídricos, que leva às inundações. Embora as chuvas torrenciais sejam comuns no verão, a Fundação Rio-Águas, da prefeitura, não tem um estudo sobre os pontos críticos de alagamento.

A bacia do Rio Acari, que abrange 26 bairros, é considerada a mais problemática pela Serla. São 27 pontos sujeitos a enchentes. Além do assoreamento, que afeta seis trechos de rios da bacia, como o Piraquê, o Catarino e o próprio Acari, há problemas como pontes e travessias de pedestres construídas pelos próprios moradores que impedem o escoamento das águas e acumulam lixo. É o que acontece, por exemplo, nas pontes das ruas Recife, Manaus e da Avenida Marechal Alencastro Guimarães, todas elas sobre o Rio Acari.

Em Acari, enchente poderia ter sido pior

A situação é tão crítica que o presidente da Serla acha que os transtornos provocados pelas chuvas na região foram pequenos:

¿ Estamos há um ano dragando a bacia de decantação do Rio Acari (trecho mais largo onde sedimentos se acumulam), em Fazenda Botafogo. Com as chuvas que caíram, a enchente poderia ter sido muito pior.

A bacia do Canal do Mangue, que abrange os rios Maracanã, Joana e Trapicheiros, na Tijuca e na Praça da Bandeira, e o Rio Comprido, é a segunda com mais pontos críticos: 15. O traçado do Rio Maracanã no trecho da Avenida Radial Oeste, considerado inadequado pela Serla, é um deles. O órgão também identificou problemas de drenagem nos arredores. Já o Rio Trapicheiros está assoreado na altura da Praça da Bandeira.

O assoreamento também é a causa dos transbordamentos do Canal do Cunha e do Rio Faria-Timbó, que alagam ruas de Bonsucesso. O problema se repete também na Baixada de Jacarepaguá, uma das regiões mais atingidas pelas chuvas dos últimos dias. Na Cidade de Deus foram 89,4mm de precipitação na chuva de terça-feira e, no Tanque, 85,6mm. O alto índice pluviométrico somou-se ao assoreamento crônico dos rios Grande, do Anil e das Pedras, além do Canal do Arroio Fundo, provocado principalmente pela ocupação irregular de encostas e das margens. Em todos eles foram feitas dragagens em 2005.

Em 2005, a Serla dragou mais de 2,6 milhões de metros cúbicos de lodo na capital, ao custo de R$55 milhões. O gasto foi 50% maior que em 2004. Já a Fundação Rio-Águas retirou, entre 2001 e 2005, 1,4 milhão de metros cúbicos, gastando R$26 milhões.

¿ A verdadeira solução seria a racionalização da ocupação do solo pelas prefeituras, não permitindo construções em encostas e na faixa marginal de 30 metros dos rios. Mas o que se vê é uma permissividade clara em favor dessas ocupações. Em todo o estado a Serla tem mais de mil ações na Justiça de demolições de imóveis na beira de rios e lagoas aguardando julgamento ¿ afirma Moreno.

Além de contribuir para o assoreamento de rios e canais, a ocupação das margens é um risco para os moradores. Na terça-feira, a força das águas destruiu diversos barracos de madeira erguidos na margem do Rio Grande, na Cidade de Deus.

Na Zona Sul, os maiores problemas estão na bacia da Lagoa Rodrigo de Freitas, que compreende os rios Macacos, Rainha e Cabeça. Segundo a Serla, as inundações no Jardim Botânico são provocadas pelo traçado inadequado dos rios, pela vazão insuficiente, por duas travessias de pedestres na Rua General Garzon que dificultam o escoamento das águas e pelo assoreamento.

Já os bolsões de água que se formam junto à Praça Sibelius, na Gávea; na Avenida Nossa Senhora de Copacabana; na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo; e na Rua Senador Vergueiro, no Flamengo, são provocados por problemas de drenagem, segundo a Serla.

Alguns municípios da Região Metropolitana estão em pior situação que o Rio. Em Nova Iguaçu, foram identificados 202 pontos críticos. Belford Roxo aparece em segundo lugar, com 137 pontos, e Duque de Caxias em terceiro, com 123.