Título: À MESA, PREÇOS EM QUEDA
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 02/02/2006, Economia, p. 25

Exportação e consumo menores deixam frango até 26% mais barato. Carne bovina cai 17%

De um lado, menos exportações de frango em janeiro, em relação ao mês anterior. Do outro, um consumo menor no mercado interno. O cenário levou os supermercados a reduzirem em até 26% os preços do alimento no mês passado na comparação com dezembro. Tem mais. A reboque dessa queda, outra boa notícia para o orçamento das famílias: as carnes bovinas também ficaram até 17% mais baratas. E na avaliação de especialistas, os preços em patamares mais baixos devem se sustentar ainda este mês. Mas não mais do que isso, avisam eles.

¿ Há um excesso de oferta de frango no mercado interno, já que estamos num período de renegociação com os importadores. E o mercado mundial está preocupado com a gripe aviária, o que também contribuiu para restringir o consumo ¿ explicou Ricardo Gonçalves, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef).

No Grupo Pão de Açúcar (Sendas, Extra, ABC CompreBem e Pão de Açúcar), por exemplo, o frango apresentou no mês passado queda de 11% no preço. Como nos casos do quilo da asa, que baixou para R$3,29 nas Sendas, e do filé de frango (caiu para R$3,79 no Extra). Já a carne registrou baixa de 17%. Uma queda vista no quilo do contrafilé, vendido a R$8,98 no Pão de Açúcar. No Princesa, que faz parte da Rede Economia, o peito de frango chegou a custar esta semana R$2,49 (26% abaixo do preço de há duas semanas).

¿ Se o frango está mais barato, a carne acaba seguindo a tendência para não perder consumidores. Mas não podemos ignorar que ainda há resquícios da aftosa no preço de produtos ¿ afirmou João Márcio Castro, diretor do Princesa.

Bolsa de Alimentos do Rio teme quebradeira

Além dos preços em baixa, o consumidor encontra nos supermercados promoções de curta duração. No Zona Sul, por exemplo, o quilo do filé mignon custa R$12,99 (31% a menos); o do lagarto, R$5,99 (-45%) e o da sobrecoxa, R$2,29 (-42,6%) ¿ até dia 7, para quem tem o cartão da rede. Hoje, o Princesa tem contrafilé a R$6,98 (6,8% a menos). E as Sendas fazem oferta da sobrecoxa: o quilo sai hoje a R$1,65 (-26%). Quem aproveita a onda de preços baixos são consumidores como a aposentada Helenice Bastos. Que, no último fim de semana, comprou frango a R$0,99 nas Sendas ¿ abaixo, inclusive, do preço de custo negociado na Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio (R$1,20).

¿ Venho percebendo, sim, a queda de preços, mas há casos em que a promoção é muito grande. Então, acabei caindo na tentação, já que não tinha ido ao supermercado para comprar frango. Mas, tudo bem, dei para meu irmão ¿ contou, satisfeita.

Segundo Sérgio Biogioli, diretor Comercial do Grupo Pão de Açúcar, é possível que o Extra também ofereça frango a R$0,99 em breve.

¿ E não é à toa: em três dias vendemos 700 toneladas do alimento, dez vezes mais do que se movimenta neste mesmo período.

A estratégia agressiva dos supermercados também é uma reação ao baixo consumo do brasileiro, disse José de Sousa, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio.

¿ Até arroz e feijão o brasileiro está consumindo menos. O que se vê agora, com os frangos, são preços de 1994. É que, para vender, os supermercados estão com preços em níveis abaixo do custo.

Apesar das ofertas, João Carlos Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), disse que os supermercados não devem esperar saltos nos lucros. Ele afirmou que o consumo maior pode não se traduzir em alta do faturamento das empresas:

¿ Mesmo que as vendas sejam superiores aos descontos, se o setor fechar janeiro no mesmo patamar de janeiro de 2005 já é positivo.

Para José de Sousa, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, o preço do frango pode provocar quebra-quebra entre os produtores. Isso porque, em 15 dias, o frango caiu, no atacado, de R$1,50 para R$1,20 (-20%) e o peito, de R$2,40 para R$1,90 (-20,8%).

¿ Só que essa estratégia prejudica o produtor, que ainda enfrenta outro problema: o preço do milho subiu. O governo federal, se quiser evitar quebradeira, vai precisar intervir. Preços abaixo do custo deveriam ser proibidos.