Título: `Os colonos nacionalistas religiosos perderam o controle¿
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 02/02/2006, O Mundo, p. 36

TEL AVIV. Segundo o professor de ciências políticas Moshe Maor, da Universidade Hebraica de Jerusalém, a violência em Amona foi o início de uma série de embates previstos caso o partido Kadima vença as eleições e leve o premier em exercício, Ehud Olmert, à cadeira de premier.

A apenas dois meses das eleições gerais israelenses, qual o significado político da retirada de ontem?

MOSHE MAOR: A operação foi programada ainda antes da doença de Sharon. O premier interino, Ehud Olmert, apenas mostrou ao público que pretende seguir o caminho de Sharon e seu recém-criado partido Kadima, mantendo uma política unilateral quando se trata dos territórios palestinos. Há uma mudança de estratégia no governo, pois já que não se pode solucionar o conflito, tenta-se simplesmente administrá-lo. A lei diz que as nove casas destruídas ontem foram construídas ilegalmente em território palestino. Sob o pretexto de manter a lei, creio que a tática de Olmert será desmantelar todas as colônias ilegais na Cisjordânia se for eleito.

Num momento em que os israelenses ainda sentem a ausência de Sharon, uma retirada como esta pode influenciar o resultado das eleições?

MAOR: Um choque nacional do porte do que vimos em Amona pode desestabilizar as pesquisas por alguns dias, mas acredito que o Kadima continuará à frente do Likud e do Partido Trabalhista. A última intifada e a ascensão do Hamas mostraram aos israelenses que os velhos conceitos de direita e esquerda desmoronaram. Há um colapso ideológico em Israel em que a esquerda compreendeu não ter forças para resolver o conflito através do diálogo e a direita compreendeu que o caminho da força também não levou à paz. Não há consenso sobre o que fazer e aí o Kadima ganha força. O Kadima nasceu como partido de centro, atraindo descontentes de todos os vértices ideológicos.

Caso a política de desmonte de assentamentos continue, há possibilidade de novos e mais violentos choques entre colonos e forças de segurança?

MAOR: Infelizmente creio que as cenas de confronto são apenas o começo. Os colonos nacionalistas religiosos perderam o controle. O Conselho de Yesha, responsável pelo movimento nacionalista, não tem mais qualquer influência sobre seus afiliados. Há cinco meses, na retirada de Gaza, pensou-se que se houvesse uma comoção nacional com a remoção não haveria mais evacuações. A estratégia falhou. Parte do público, sobretudo os jovens, não dá mais ouvidos à liderança e, incrédula, parte para a violência sem sequer pensar que são judeus atacando forças de segurança do Estado judeu. (Renata Malkes)