Título: ISRAEL: CONFRONTO ENTRE COLONOS E POLÍCIA FERE 200
Autor: Renata Malkes
Fonte: O Globo, 02/02/2006, O Mundo, p. 36

Forças de segurança são recebidas por milhares de radicais em assentamento ilegal ao norte de Ramallah, na Cisjordânia

AMONA, Cisjordânia. Tensão, jatos de água, pancadaria e mais de 200 feridos foram o resultado da operação militar que esvaziou ontem parte do assentamento de Amona, no norte da cidade de Ramallah, na Cisjordânia. Milhares de colonos judeus juntaram-se às 38 famílias residentes no local para enfrentar as forças de segurança israelenses e tentar impedir a demolição de nove casas construídas ilegalmente no alto de uma colina, em território palestino. As cenas de violência física e verbal remeteram à resistência enfrentada durante o plano de retirada da Faixa de Gaza, em agosto passado.

Após uma semana de confrontos esporádicos, cerca de seis mil policiais e soldados cercaram o assentamento nas primeiras horas da manhã aguardando a decisão da Suprema Corte de Justiça de Israel. Os colonos haviam impetrado uma ação tentando adiar a demolição das casas, mas às 10h (hora local), alto-falantes anunciaram a decisão de seguir em frente com a desocupação. O movimento de resistência pedia a colonos e manifestantes ¿ a maioria com idades entre 14 e 16 anos ¿ que corressem para as construções a serem demolidas e resistissem até o fim. Barricadas e cordões de isolamento foram montados, pneus queimados e centenas de jovens ocuparam telhados entoando palavras de ordem e atirando pedras, tinta, areia e água nos soldados.

Houve tumulto, empurra-empurra e pancadaria. Até mesmo a cavalaria da polícia foi acionada. Segundo o Exército, 86 policiais e 140 civis foram feridos, a maioria atingida por pedras. Pelo menos nove pessoas foram levadas ao hospital em estado grave e 45 colonos foram detidos. Assim como em Gaza, foi necessário o uso de tratores para que os militares chegassem até manifestantes no terraço das casas. O premier em exercício, Ehud Olmert, demonstrou indignação e afirmou que Israel não vai tolerar outros episódios como o de ontem.

¿ Quando cidadãos lançam blocos de concreto sobre a cabeça de soldados, está claro que passaram dos limites. Nunca vimos choques tão violentos como esse e acredito que a Procuradoria-Geral, que viu pela TV os ataques sofridos pelas forças de segurança, defenda todos os que participaram da ação. Quero parabenizar a todos que cumpriram uma missão difícil, contendo-se ao máximo diante de um ataque deste tipo ¿ disse ele.

Israel não paga dinheiro de impostos à ANP

Enquanto ambulâncias removiam os feridos, a demolição das casas foi concluída em quatro horas. Centenas de colonos choravam pelos cantos.

Grupos da extrema-direita acusam Olmert de promover a remoção apenas para ganhar votos para seu novo partido, o Kadima, criado pelo primeiro-ministro Ariel Sharon, há um mês em coma. De acordo com a secretária Aviva Feinberger, do Conselho de Assentamentos Biniamin, responsável pela ação que tentou impedir o desmantelamento, a manobra política será um fracasso nas urnas nas eleições do dia 28 de março.

¿ Olmert está pensando que é Ariel Sharon, mas não é. Ele quer demonstrar força, mas sua estratégia vai falhar ¿ disse Aviva.

Ontem, médicos que cuidam do premier inseriram um tubo de alimentação em seu estômago. Sharon continua em situação crítica, mas estável.

O governo de Israel ontem interrompeu o pagamento de impostos à Autoridade Nacional Palestina. A ANP diz que, com a decisão, 140 mil trabalhadores do governo deixaram de receber salários. Palestinos afirmaram que recorrerão a países como Arábia Saudita e Qatar. Israel afirma que não dará dinheiro a uma ANP controlada pelo Hamas.