Título: MOSQUITOS PREOCUPAM PIRATININGA
Autor: Guilherme Freitas
Fonte: O Globo, 03/02/2006, Rio, p. 13

Moradores se queixam da demora da prefeitura em combater infestação

Uma infestação por mosquitos está deixando alarmada a população de Piratininga, na Região Oceânica de Niterói. Há pelo menos duas semanas, os insetos tomaram de assalto as casas do bairro, onde vivem cerca de 17 mil pessoas em cinco mil domicílios. Por causa do problema, moradores estão vedando frestas de portas e janelas. Os mosquitos não são do tipo Aedes aegypti, transmissor da dengue.

Apesar disso, moradores temem a proliferação de doenças e se queixam da morosidade da prefeitura de Niterói para apresentar uma explicação para o fenômeno e tomar providências. Para eles, uma obra da Serla na localidade de Jardim Imbuí estaria contribuindo para a infestação. Parada desde dezembro de 2004, a obra de abertura de um túnel entre a Lagoa de Piratininga e o mar abriu uma imensa cratera, que se transformou numa piscina de água de chuva.

¿ Moro aqui há 15 anos e nunca vi uma infestação como esta ¿ reclamou a funcionária pública aposentada Maria Stela Schroeder, que mora na Rua Acúrcio Torres.

Especialista: mudança climática causou problema

Moradores têm recorrido a inseticidas comuns, comprados em mercados, para combater a infestação, mas sem sucesso.

Arlindo Serpa, pesquisador do Departamento de Entomologia da Fundação Oswaldo Cruz, visitou o bairro ontem e identificou os insetos como sendo da família Chironomidae (ou quironomídeos). Segundo ele, esse tipo de mosquito não se alimenta de sangue, como ocorre com o Aedes aegypti. Seus ovos e larvas sobrevivem em água suja ou limpa e servem de alimento para peixes, pássaros e outros insetos. Na fase adulta, vivem não mais que 36 horas. Para o pesquisador, a infestação ocorreu por causa da mudança brusca no clima:

¿ Houve um período de quase um mês de seca, seguido de um volume enorme de chuvas. As larvas que estavam no ambiente da lagoa emergiram para a fase adulta todas de uma vez, causando a explosão demográfica. Os quironomídeos já existiam no bairro sem ser notados.

Segundo o pesquisador, não existe na literatura médica casos de transmissão de doenças por quironomídeos. Serpa acrescentou que o mosquito é mais resistente que o Aedes aegypti:

¿ Com ele não adianta fumacê. É necessário fazer um levantamento de todas as espécies dentro dessa família que estão agindo no bairro, para escolher que substância usar ¿ explicou o pesquisador.

O diretor de Obras de Serla, José Carlos Pinto, admitiu que o acúmulo de água na obra do túnel pode estar contribuindo para a proliferação dos mosquitos. Ele disse que o órgão vai providenciar a drenagem, mas isso ainda vai demorar um mês.

¿ A Serla não dispõe de equipamentos próprios e depende de contratos para tomar providências como essa. Já fizemos nova licitação para concluir o túnel e devemos assinar contrato com a construtora escolhida até o fim do mês ¿ afirmou o diretor.

Prefeitura fará estudo para decidir como será combate

A Secretaria municipal de Saúde de Niterói confirmou que os mosquitos são da família Chironomidae ¿ isso foi constatado depois que amostras foram enviadas à Fundação Nacional de Saúde. Segundo a secretaria, os mosquitos não representam risco à saúde pública e o uso de fumacês não deu bom resultado. Nos próximos dias, a prefeitura fará um estudo ambiental sobre a infestação para decidir como combater os insetos.