Título: EXPORTADORES: VENDAS BRASILEIRAS PODEM ATÉ CAIR
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 03/02/2006, Economia, p. 21

Para associação, acordo é prêmio dado pelo Brasil à ineficácia industrial argentina

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O acordo de salvaguardas firmado entre os governos de Brasil e Argentina implicará perdas às exportações brasileiras para o país vizinho. A previsão é do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Segundo ele, as projeções da entidade de que as vendas ao país vizinho crescessem no mesmo ritmo esperado para a economia argentina este ano, entre 7% e 10%, dificilmente se cumprirão.

¿ A indústria argentina não tem como acompanhar o ritmo de crescimento do seu mercado interno, por isso projetávamos a expansão das nossas vendas. Mas com as salvaguardas, as exportações brasileiras podem até cair ¿ diz.

Dizendo-se surpreso com a forma como o acordo foi fechado, Castro disse que as autoridades brasileiras simplesmente formalizaram alternativas para que os argentinos restrinjam mais as vendas brasileiras.

¿ Não sabemos ainda quais setores (da indústria argentina) vão adotar as salvaguardas, mas certamente haverá reflexos negativos nas nossas exportações, que não dá para quantificar ainda ¿ disse Castro.

O diretor da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Benedito Pires de Almeida, considera o novo acordo um prêmio dado pelo Brasil à ineficácia da indústria argentina.

¿ A medida traz insegurança. Agora, como as empresas brasileiras vão saber se vale a pena, ou não, investir no mercado argentino? ¿ diz Almeida.

O presidente da Eletros, entidade que reúne a indústria nacional de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, Paulo Saab, disse que o setor rejeita o acordo. Para ele, a medida abre ¿sério e perigoso¿ precedente de alteração das regras do Mercosul. Saab lembra que as indústrias brasileiras de geladeiras, televisores, máquinas de lavar e fogões estão submetidos a cotas impostas unilateralmente pelos argentinos desde 2004. As exportações brasileiras desses produtos caíram de US$300 milhões para US$150 milhões. E em vez de modernizar as indústrias, os argentinos passaram a importar de outros países, como México.

Em resposta às críticas do empresariado, representado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ¿ que classificou a medida como retrocesso ¿ o chanceler Celso Amorim disse que a adoção de salvaguardas será precedida de consultas e investigação. E que o instrumento será usado com moderação.

¿ O que queremos é que não haja mais decisões unilaterais. Muitas vezes, é possível chegar a um entendimento nas áreas cinzentas.