Título: CHIADEIRA NO MERCOSUL
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 03/02/2006, Economia, p. 21

Após Brasil ceder à Argentina, Paraguai pede reunião de emergência e Uruguai critica

Oacordo entre Brasil e Argentina para criar o Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC) ¿ que permitirá a adoção de medidas protecionistas (salvaguardas) ¿ caiu como um balde de água fria entre autoridades do Paraguai e do Uruguai, sócios menores do Mercosul, que, mais uma vez, se sentiram excluídos de uma negociação considerada importante. A ministra das Relações Exteriores do Paraguai, Leila Rachid, solicitou uma reunião extraordinária de chanceleres do Mercosul que, segundo funcionários do governo paraguaio, será realizada no próximo dia 15 de fevereiro, em Buenos Aires. Além disso, assessores do ministro da Economia do Uruguai, Danilo Astori, reiteraram o desejo de setores de seu governo de negociar um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os EUA.

Fontes do governo paraguaio disseram que a reunião foi convocada porque o bloco está ¿submerso em conflitos que refletem um Mercosul cada vez mais distanciado¿. Para essas fontes, teria sido muito importante que todos os países do bloco tivessem participado da negociação.

¿ Lamentamos não termos sido consultados ¿ disse ao GLOBO o vice-ministro de Relações Econômicas e Integração da chancelaria paraguaia, Rubén Ramírez Lezcano.

Segundo ele, em julho do ano passado, o Paraguai apresentou uma proposta de incorporação de salvaguardas ao Mercosul:

¿ Teria sido muito bom que Brasil e Argentina tivessem nos incluído nas discussões.

Segundo Lezcano, seu governo considera importantíssima a criação do MAC e nos próximos dias vai estudar em detalhe o acordo fechado entre Brasil e Argentina. Nos corredores da chancelaria paraguaia, o clima era de profunda irritação. Na visão de alguns negociadores do governo do presidente Nicanor Duarte Frutos, o Mercosul está entrando numa crise que pode ser terminal.

¿ O principal problema que temos é a imagem negativa do bloco entre os paraguaios. Muitas vezes não somos consultados e a população está começando a achar que o Mercosul não nos beneficia em nada ¿ desabafou um negociador.

Argentinos celebram acordo como vitória

Em Montevidéu, congressistas aliados ao governo fizeram duríssimas críticas ao acordo.

¿ Os principais sócios do Mercosul fecharam um acordo bilateral que desconhece a postura do Uruguai e do Paraguai ¿ afirmou o senador Alberto Cid, importante colaborador do ministro da Economia uruguaio, Danilo Astori.

O congressista uruguaio reiterou o desejo de setores do governo de trocar o Mercosul por um acordo bilateral com os Estados Unidos.

¿ O Uruguai deve consolidar sua posição comercial com o principal mercado para suas exportações ¿ disse Cid, em tom de provocação.

Em Brasília, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acompanhado do chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, disse que o MAC poderá ser estendido aos demais sócios do Mercosul, desde que seja exaustivamente negociado, como foi feito com os argentinos.

¿ O MAC foi uma reivindicação dos argentinos ¿ afirmou Amorim.

Gargano disse que seu país vai observar o quadro formado pelo entendimento entre Brasil e Argentina, antes de tomar uma posição. Com respeito às declarações de autoridades uruguaias sobre um acordo comercial com os EUA, Gargano disse que seu país é leal ao Mercosul.

Já os argentinos comemoraram o entendimento com o Brasil. ¿Acordaram limitar as importações do Brasil¿, foi a manchete do jornal ¿Clarín¿, ontem. ¿Conseguem limitar a entrada ao país de produtos brasileiros¿, noticiou o ¿La Nación¿.