Título: EMPRESAS BRASILEIRAS RECORREM AO FINANCIAMENTO EXTERNO PARA EXPORTAR
Autor: Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 03/02/2006, Economia, p. 22

Risco-país menor e abundância de recursos melhoram opção de crédito

BRASÍLIA e RIO. As empresas brasileiras, sobretudo as de grande porte e exportadoras, estão conseguindo financiamentos externos mais baratos e com prazos e volumes maiores. Além de apresentarem bons resultados, o cenário econômico do Brasil ajuda a diminuir a desconfiança dos investidores de fora. O risco-país, por exemplo, está em seu nível histórico mais baixo, perto de 260 pontos básicos, e nem mesmo as eleições neste ano assustam, já que praticamente existe consenso de que a política econômica será preservada independentemente de quem vencer o pleito.

¿ O Brasil e os países emergentes se beneficiam da extrema liquidez lá fora. Sobra dinheiro no mercado externo ¿ diz o diretor financeiro da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Otávio Lazcano.

A empresa, que exporta por ano cerca de US$1,5 bilhão, conseguiu reduzir os custos de financiamento externo nos últimos tempos. Lazcano cita como exemplo a emissão de bônus feita pela CSN em janeiro de 2005, com prazo de dez anos e custo de 9% anuais, além da variação cambial. Naquela época, foram captados US$200 milhões, muito aquém dos US$750 milhões levantados com a emissão de bônus perpétuos feita em meados do ano passado. Nesta operação, lembra o executivo, não há prazo de vencimento e o custo ficou em 9,5% ao ano.

Empresas brasileiras pagam mais do que concorrentes

O bom cenário, avaliam os especialistas, vale sobretudo para as empresas exportadoras ou que trabalham com produtos cujos preços são atrelados ao dólar, como siderurgia e mineração. Isso porque as vendas são uma espécie de garantia, retirando o risco cambial das operações.

O economista sênior para América Latina do banco Dresdner Wasserstein, Nuno Câmara, acredita que o cenário continuará bom para essas companhias brasileiras e projeta forte desempenho da balança comercial para este ano, com superávit de US$44 bilhões. Já as exportações devem crescer 12% neste ano, chegando a US$132 bilhões.

Essa onda positiva também afeta as instituições nacionais que emprestam. No Banco do Brasil, por exemplo, a projeção para 2006 é que as linhas de financiamento para exportações não cresçam, ao contrário da expansão de quase 32% do ano passado. Em 2005, o banco emprestou a cifra recorde de US$11,877 bilhões só com operações de Adiantamento sobre Contratos de Câmbio (ACC) e Adiantamentos sobre Cambiais Entregues (ACE).

¿ O mercado está muito líquido, com risco-país bom ¿ disse o diretor de Comércio Exterior do BB, Rogério Lot.

O cenário favorável trouxe também novidades para algumas companhias, que receberam ¿grau de investimento¿ das agências de classificação de risco, o melhor sinal para os investidores. A fabricante de aviões Embraer é um exemplo: obteve no mês passado o grau (BB-) da Standard & Poor's.

Mesmo com o mercado externo favorável, as empresas brasileiras ainda pagam mais caro do que suas concorrentes de países emergentes, que apresentam menos risco para o mercado. O diretor financeiro da Vale do Rio Doce, que também já recebeu ¿grau de investimento¿, Fabio Barbosa, diz que os custos pagos hoje, apesar de menores, não representam a realidade da Vale.

COLABOROU Erica Ribeiro