Título: Mitos e verdades
Autor: Rachel Bertol
Fonte: O Globo, 04/02/2006, Prosa & Verso, p. 1

Os homens antigos não viviam sem mitos, com os quais explicavam muitos dos mistérios desvendados pela Humanidade ao longo dos séculos. No Brasil, a situação da leitura e do mercado editorial ainda parece, muitas vezes, numa era de antigüidade mitológica. São muitas as histórias, as hipóteses, as aparências, mas ninguém conhece ainda ao certo a verdade sobre índices de leitura, sobre a economia do setor, sobre o número e o estado das livrarias no país.A partir de hoje, e nas próximas três semanas, o Prosa & Verso vai debater alguns dos mitos que norteiam a atividade editorial no país, ou as meias-verdades que tanto dificultam ações eficazes de política de Estado no incentivo à leitura. Vai também mostrar o esforço que tem sido feito para pôr fim ao cenário de incertezas e palpites. Quem nunca ouviu que o brasileiro não gosta de ler? Hoje, o mito em debate é justamente este. Verdade ou mentira? Profissionais que trabalham no incentivo à leitura, sempre em busca de apoio para realizar seus projetos, desmistificam essa questão e contam um pouco da sua emoção ao descobrir e formar leitores nos rincões do país.Na próxima semana, será a vez de lançar a discussão sobre as livrarias. Sempre se comentou que Buenos Aires tem mais livrarias que o Brasil inteiro. Hoje, já se diz que isso não corresponderia mais à realidade, em grande parte devido à crise econômica vivida pelos portenhos nos últimos anos, mas de toda forma não se apresentam dados para embasar as comparações. Isso porque, simplesmente, ainda não há informações consolidadas a respeito no Brasil. Quais as conseqüências desse desconhecimento?Em seguida, será a vez de um tema espinhoso: o preço do livro e, de quebra, a situação do mercado editorial no país. A maior parte dos editores brasileiros assegura que o livro no Brasil não é caro. Esta, porém, não é a opinião do consumidor. E novas pesquisas econômicas realizadas nos últimos anos mostram que haveria espaço para redução de preços, o que, a princípio, atrairia maior fatia de compradores, ou seja, aumentaria o acesso ao livro. Na última semana, a série vai se voltar para a situação dos autores no país: afinal, as editoras preferem os escritores estrangeiros aos brasileiros? Vamos aos fatos.