Título: PROMESSA ELEITORAL, PROGRAMA NAUFRAGOU
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 04/02/2006, O País, p. 3

Ministério só atendeu 6.282 jovens até 2005; meta era de 150 mil em um ano

BRASÍLIA. O programa Primeiro Emprego, uma das promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para inserir no mercado formal de trabalho jovens entre 16 e 24 anos, não deslanchou. De uma meta de atender 150 mil jovens em um ano de funcionamento, o programa empregou apenas 6.282, entre 2003 e 2005.

Somente 5.806 empresas se interessaram em ganhar do governo R$1.500 a título de subsídio para dar a primeira oportunidade de emprego a quem nunca trabalhou, segundo dados do próprio ministério.

Verbas foram redirecionadas para programas alternativos

Para colocar o Primeiro Emprego da rua, a pasta, comandada na época pelo ex-ministro Ricardo Berzoini, hoje presidente do PT, contratou sem licitação a Cobra Computadores, do Banco do Brasil, para montar um programa, com cadastramento de jovens, abertura de vagas e controle de pagamento de subsídios às empresas.

Diante do fraco desempenho do Primeiro Emprego e sem poder acabar com a subvenção criada por lei, o ministério esvaziou o programa e vem direcionando os recursos para outra perna do Primeiro Emprego, o programa Consórcios da Juventude, que teve pouca divulgação por parte do governo.

São agrupamentos de jovens, que fazem cursos gratuitos ¿ de 400 horas-aula, entre noções de computação, ética, direitos humanos e qualificação ¿ para depois tentarem uma colocação no mercado de trabalho. Esses jovens também recebem uma bolsa de R$120 em cinco parcelas, enquanto estiverem no período de treinamento.

Segundo levantamento do Ministério do Trabalho, desde 2003 foram formados 25 consórcios em várias capitais do país, tendo beneficiado 62.992 jovens. Desse total, não mais que 8.873 conseguiram uma colocação no mercado. O programa é executado com a ajuda de ONGs e recebeu R$60 milhões ¿ 90% da verba total do Primeiro Emprego.

Outra perna do Primeiro Emprego, o serviço civil voluntário, que prevê bolsas para jovens considerados em situação de risco (ex-presidiários, por exemplo) que quiserem se dedicar a atividades na área da saúde e educação, não emplacou: não houve um único atendimento no ano passado.

Para o professor de Economia da Unicamp Marcio Pochmann, o programa Primeiro Emprego foi um fiasco porque nasceu a partir de um diagnóstico errado por parte do governo federal sobre a situação do jovem no país. Não faltam apenas postos de trabalho, mas, sobretudo, estudo, destacou o economista.

Economista defende ação integrada entre Ministérios da Educação e do Trabalho

Pochmann também considerou que a ação dos consórcios é limitada e atinge um universo pequeno de jovens, porque é coordenada por organizações não-governamentais.

¿ Existe um universo de 34 milhões de jovens no país e a metade não estuda ¿ destacou o economista, acrescentando que o governo teria maior eficiência no combate ao desemprego juvenil se desenvolvesse uma ação integrada entre os Ministérios da Educação e Trabalho.

Já, o chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Neri, afirmou que o programa Primeiro Emprego não andou porque não adianta financiar o capital para gerar trabalho.

¿ É melhor oferecer uma espécie de segunda bolsa aos jovens para que eles continuem os estudos e por conseqüência consigam um emprego ¿ disse ele. (Geralda Doca)