Título: PARAGUAI CONFIRMA REUNIÃO SOBRE CRISE
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 04/02/2006, Economia, p. 23

Governos paraguaio e uruguaio se queixam de desigualdades no Mercosul

BUENOS AIRES. O governo do presidente paraguaio, Nicanor Duarte Frutos, confirmou ontem a realização de uma reunião extraordinária de chanceleres do Mercosul no próximo dia 15 de fevereiro, em Buenos Aires. O encontro foi convocado a pedido da ministra das Relações Exteriores do país, Leila Rachid, que, segundo fontes, acompanha com preocupação ¿a redução do comércio entre seu país e os demais sócios do Mercosul¿.

O acordo assinado pelos governos de Brasil e Argentina para criar o Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC) não foi bem recebido pelos outros dois sócios do bloco, que se sentiram excluídos de uma negociação considerada importante.

Segundo fontes do governo paraguaio, no ano passado o comércio do país com o Brasil despencou cerca de 40%. Os negociadores paraguaios estimam que atualmente cerca de três mil empresas brasileiras exportam seus produtos para o mercado paraguaio, e apenas 260 empresas paraguaias vendem os seus no Brasil.

¿ Nosso comércio diminuiu com todos os países do Mercosul, mas sobretudo com o Brasil. O problema afeta, por exemplo, os produtores de soja, que enfrentam barreiras sanitárias para entrar no mercado brasileiro e, com isso, foram obrigados a buscar novos mercados, como China e Venezuela ¿ disse a fonte.

Em Montevidéu o clima também é de irritação. Mas o comércio não é o que mais preocupa os uruguaios:

¿ O que mais nos incomoda é que Brasil e Argentina nos excluam de negociações e acordos tão importantes. No começo do Mercosul tínhamos um peso muito maior dentro do bloco ¿ disse o editor de um dos jornais mais importantes do país, que pediu para não ser identificado. ¿ O governo do presidente Tabaré Vázquez sente que nos últimos anos o Uruguai só perdeu com o Mercosul.

Hoje os EUA são o principal sócio comercial do Uruguai. Segundo dados oficiais do governo, do total das exportações uruguaias cerca de 19,6% são destinadas ao mercado americano (basicamente carne) contra 16,6% que vão para o Brasil. Das importações do país, 22% são produtos americanos e 21,1%, brasileiros.