Título: GOOGLE ENFRENTA PROBLEMAS EM SEU SITE CHINÊS
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Fonte: O Globo, 04/02/2006, Economia, p. 25

Internautas da China não conseguem acessar página de buscas. Fontes falam em bloqueio por servidor do governo

XANGAI e NOVA YORK. Apenas uma semana depois de seu lançamento, o site Google.cn ¿ a versão chinesa do site de busca mais usado do mundo ¿ ficou fora do ar ontem por várias horas. Segundo a agência de notícias AFX e o site da revista ¿Forbes¿, há suspeitas de que o problema tenha sido causado por um bloqueio das autoridades chinesas, apesar de a versão oficial falar em dificuldades técnicas.

O site ficou inacessível em Xangai e Pequim na tarde de ontem, mas, fora da China, podia ser consultado, já que está baseado nos Estados Unidos.

¿ Os usuários chineses tiveram dificuldade de acessar o Google.cn até nas regiões em que podiam entrar no Google.com. Trabalhamos para resolver o problema junto ao servidor de internet local ¿ disse um porta-voz da Google.

Fontes ligadas à empresa disseram que o problema seria no servidor chinês, não técnico ¿ daí a suspeita de uma censura. Testes feitos em Xangai mostraram que o site estava sendo bloqueado por um backbone (servidor) do governo. Nos testes, surgia a mensagem ¿CHINANET backbone¿, a mesma vista em sites bloqueados pelo governo chinês, como o da BBC.

ONG: empresas correm `para o fundo do poço¿

A Google vem enfrentando uma pesada carga de críticas devido ao fato de ter aceitado a exigência de Pequim de censurar, em seu site, buscas sobre temas malvistos pelo governo, como o massacre na Praça da Paz Celestial, em 1989, a independência do Tibete e direitos humanos.

Mas seus concorrentes, como Yahoo! e Microsoft, já haviam aceitado restringir suas buscas. De qualquer forma, depois da organização Repórteres sem Fronteiras e dos deputados americanos, ontem foi a vez da ONG Direitos Humanos na China criticar a Google.

O grupo, com sede em Nova York, disse que ainda não é tarde para a Google assumir a liderança corporativa na luta pela democracia. Em nota, a ONG lembrou que a empresa se juntou a suas rivais, ¿que se dobraram às exigências do governo chinês para tentar ganhar mercado no país¿.

¿Em vez de exercer uma liderança corporativa, essas empresas entraram em uma `corrida para o fundo do poço¿, fazendo concessões que restringem a liberdade de expressão e acesso à informação na China¿, afirmou o comunicado.

Para a Direitos Humanos na China, a Google ainda pode mudar sua atitude naquele país. O problema é que as grandes empresas de internet estão de olho nos 111 milhões de internautas chineses, um mercado que não pára de crescer. Ano passado, a participação da Google nas buscas chinesas passou de 22,4% para 26,9%, segundo a consultoria iResearch, de Xangai. Sua maior rival na China é a Baidu.com, cuja fatia passou de 33% para 46,5%.

Enquanto sua postura na China domina os debates sobre a ética empresarial, a Google continua ampliando seus domínios. Ontem, a Volkswagen informou que usará o Google Earth ¿ site de mapas com imagens de satélite ¿ nos sistemas de navegação de seus veículos. A montadora alemã disse que já está trabalhando em um protótipo.