Título: FERRY SERIA DE TIPO QUE AFUNDA RAPIDAMENTE
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Fonte: O Globo, 04/02/2006, O Mundo, p. 28

Especialistas chamam atenção para possíveis irregularidades

CAIRO. Especialistas disseram que o al-Salam 98 era um tipo de ferry que afunda rapidamente quando a água entra por uma das portas destinadas ao embarque de veículos. Foi o que teria acontecido com o ferry Herald of Free Enterprise ¿ que seria igual ao al-Salam 98 ¿ na costa da Bélgica, em 1987, e com o Estônia, no Báltico, em 1994.

¿ Se essas portas estão abertas por algum motivo, isso acontece ¿ disse Richard Clayton, editor da revista de navegação ¿Fairplay¿.

O pequeno número de sobreviventes e de pedidos de socorro recebidos por guardas costeiras indicariam que houve pouco tempo para que se tomassem medidas de emergência na embarcação.

¿ Isso me leva a pensar que ele (o ferry) afundou muito rapidamente e que houve pânico absoluto a bordo. Sugere que algo catastrófico aconteceu ¿ afirmou Clayton.

Já Sayed Betuali, professor de engenharia mecânica na Universidade do Cairo, disse que possivelmente o al-Salam 98 tinha dois ou três andares construídos ilegalmente, o que poderia ter dificultado a rápida retirada das 1.400 pessoas a bordo, causando a catástrofe.

Aflitos, parentes de passageiros buscam notícias

O último contato do al-Salam 98 com a terra foi feito às 22h de quinta-feira (hora local). De acordo com a agência de notícias estatal egípcia Mena, um outro ferry, o Saint Catherine, que fazia a mesma rota durante a noite, mas no sentido oposto, recebeu uma mensagem aflita do capitão do al-Salam 98 segundo a qual a embarcação corria o risco de afundar. A el-Salam Maritime Navigation, empresa proprietária do ferry, afirmou que, embora chovesse e ventasse muito, as condições de visibilidade no mar eram boas no momento do naufrágio

O al-Salam 95, um ferry idêntico ao al-Salam 98, e da mesma empresa, afundou no Mar Vermelho em outubro, depois de bater num cargueiro cipriota, mas quase todas as 1.466 pessoas a bordo foram salvas. Duas morreram e cerca de 40 ficaram feridas. O capitão foi preso e acusado de homicídio involuntário.

Hospitais da região do porto de Sáfaga, no Egito, permaneceram ontem em estado de emergência. Dezenas de pessoas aflitas se concentraram no porto, em busca de notícias de amigos e parentes. Algumas reclamaram da falta de informação. Outras, de que a polícia tentava dispersá-las.

¿ Eles ficam dizendo para irmos embora, como se não fôssemos seres humanos ¿ afirmou Ali Aboul Azaim, de 19 anos.

¿ Não estão nos dando qualquer informação. Onde estão os corpos? Para onde estão levando os sobreviventes? ¿ gritou Gadir Mohammed.