Título: MULHERES, A ARMA SECRETA DO HAMAS
Autor: Ian Fisher
Fonte: O Globo, 04/02/2006, O Mundo, p. 30

Elas fizeram campanha de porta em porta e conquistaram seis das 74 cadeiras no Parlamento

CIDADE DE GAZA. O Hamas é conhecido e temido por seus homens armados ou com bombas presas ao corpo. Mas em sua vitória nas eleições parlamentares palestinas da semana passada, a arma secreta foram suas mulheres. Num grau que especialistas dizem ser novo na conservadora sociedade islâmica da Faixa de Gaza, o Hamas usou suas mulheres para vencer, enviando-as de porta em porta em campanhas de boca de urna.

Agora, na surpreendente chegada ao controle da política palestina, o Hamas pode se gabar de ter seis mulheres entre os 74 parlamentares que elegeu ¿ dando às integrantes do grupo radical, guiado por sua interpretação do Islã, um novo e raro papel público.

¿ Vamos liderar fábricas, vamos liderar fazendeiros ¿ disse Jamila al-Shanty, uma professora da Universidade Islâmica que foi eleita para o Parlamento palestino. ¿ Vamos mostrar ao mundo que a prática do Islã em relação à mulher não é bem conhecida.

Se a previsão dela estiver correta, o papel da mulher certamente não será nas linhas ocidentais seculares seguidas amplamente sob décadas de liderança do agora derrotado Fatah de Yasser Arafat. Ele seguirá o modelo islâmico: as mulheres do Hamas usam o véu muçulmano e seguem regras severas de segregação dos homens.

A ¿mãe dos mártires¿ como modelo

Um de seus modelos é Mariam Farhat, mãe de três integrantes do Hamas mortos por israelenses. Um deles atacou uma colônia israelense, matou cinco pessoas e foi morto a tiros. Ela disse mais tarde que desejaria ter cem filhos para sacrificá-los da mesma forma. Conhecida como a ¿mãe dos mártires¿, foi vista num vídeo de campanha empunhando uma arma. Agora é uma das seis mulheres parlamentares do Hamas.

¿ Não se trata só de sacrificar os filhos. Há diferentes tipos de sacrifício, com dinheiro, educação. Todos, de acordo com sua capacidade, devem se sacrificar ¿ disse ela.

Modelos como o de Farhat preocupam o Ocidente, que vê com temor a ascensão do grupo extremista e ameaça cortar a ajuda financeira aos palestinos. Os Estados Unidos temem que o Hamas possa pedir ajuda econômica ao Irã, revelou o cônsul americano em Jerusalém, Jacob Walles. Mas ao mesmo tempo, Walles duvida que o governo iraniano possa financiar a Autoridade Nacional Palestina (ANP).

Os EUA já suspenderam a execução de novos projetos nos territórios palestinos após a vitória do Hamas, no dia 25 passado. E os principais países doadores afirmaram que se o Hamas formar o futuro governo palestino, deverá reconhecer o direito de Israel de existir.

Caracas diz que membros do Hamas virão ao Brasil

Mas, desafiando a pressão internacional, o Hamas afirmou ontem que nunca reconhecerá Israel. O grupo admitiu, no entanto, que pode negociar uma trégua temporária com o governo israelense.

¿ Se vocês (israelenses) desejam aceitar o princípio de uma trégua de longo prazo, então estamos prontos para negociar os termos ¿ disse Khaled Meshaal, líder do Hamas.

O vice-presidente da Venezuela, José Vicente Rangel, informou que integrantes do Hamas planejam visitar Brasil, Argentina, Bolívia e talvez a Venezuela.

¿ Eles anunciaram que vão fazer uma viagem por países da América Latina, entre eles Brasil, Argentina, Bolívia e creio que também a Venezuela, mas não recebemos informação oficial a esse respeito ¿ disse Rangel.

Segundo o vice-presidente, a Venezuela não vê por que um movimento que acaba de obter um triunfo político não possa fazer uma visita política¿.

Com agências internacionais