Título: EUA DECIDEM EXPULSAR DIPLOMATA VENEZUELANA
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Fonte: O Globo, 04/02/2006, O Mundo, p. 31

Medida é uma represália a medida similar de Caracas contra adido americano e marca escalada da tensão entre países

WASHINGTON. Os Estados Unidos ordenaram ontem a expulsão de uma diplomata venezuelana em represália a uma medida semelhante de Caracas, que na véspera ordenara a saída do adido naval americano sob acusação de espionagem. As expulsões marcam uma perigosa escalada nas tensões diplomáticas entre os dois países, que antes se limitavam à troca de acusações.

A diplomata venezuelana foi identificada como Jeny Figueredo Frías, ministra-conselheira da embaixada em Washington. Não está claro se ela tem parentesco com o presidente venezuelano ¿ cujo nome completo é Hugo Chávez Frías. Ela tem 72 horas para deixar os EUA.

¿ Não gostamos de nos ver num jogo de toma lá dá cá como este com a Venezuela, mas eles começaram isto e fomos forçados a responder ¿ disse o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack.

Segundo McCormack, a diplomata foi escolhida porque os EUA acreditam ¿ser a pessoa mais apropriada¿. O governo americano não apresentou acusações contra ela ¿ ao contrário do que ocorreu com o adido naval, John Correa, que, segundo Caracas, teria recebido informações secretas de militares venezuelanos e as repassado ao Pentágono.

Jeny Figueredo tinha pouco contato com funcionários do governo americano, mas era uma figura chave para o funcionamento da embaixada, supervisionando a maior parte dos assuntos e assessorando o embaixador Bernardo Alvarez.

Vice venezuelano acusa Bush de ter quadrilha

Enquanto a diplomata tem 72 horas para deixar os EUA, Correa já está nos Estados Unidos. O governo americano nega que ele tenha desempenhado qualquer atividade imprópria.

¿ Não consigo me lembrar quando foi a última vez que um diplomata americano foi expulso da América Latina. Para Chávez fazer isso significa que está procurando briga ou que encontrou a briga que procurava ¿ disse Riordan Roett, do Johns Hopkins School of Advanced International Studies, em Washington.

O episódio é um novo passo na escalada de deterioração das relações entre Washington e Caracas, cujas conseqüências algumas vezes se refletem no volátil mercado do petróleo, já que a Venezuela é o quinto maior exportador mundial.

Até as expulsões, os dois países se limitavam a uma acalorada troca de críticas e alfinetadas. Caracas acusa o governo americano de ser imperialista e Washington denuncia ¿intenções totalitárias¿ de Chávez. O governo americano vê com desconfiança a aproximação de Chávez ¿ que ontem visitava Havana para a assinatura de um acordo cultural ¿ com o presidente de Cuba, Fidel Castro.

O tom subiu nos últimos dias. Na quinta-feira, o secretário da Defesa americano, Donald Rumsfeld, comparou Chávez a Adolf Hitler, dizendo que ele consolidava seu poder às custas da democracia. Horas antes, o chefe dos serviços de inteligência, John Negroponte, dissera que o presidente venezuelano queria reforçar laços militares com Irã e Coréia do Norte ¿ países que os EUA incluem no chamado ¿eixo do mal¿.

A resposta da Venezuela veio ontem, por meio do vice-presidente José Vicente Rangel:

¿ Igual a Hitler que tinha uma quadrilha de auxiliares, (Bush) conta com uma quadrilha famosa integrada pelo vice-presidente Dick Cheney, Negroponte e Rumsfeld, conhecido traficante de armas.