Título: LARGADA EMBOLADA
Autor: Ilimar Franco e Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 05/02/2006, O País, p. 3

Caciques do PMDB rejeitam favoritismo inicial de Garotinho e apostam em Rigotto

Os caciques regionais do PMDB desdenham do que hoje é o principal trunfo do ex-governador Anthony Garotinho para conseguir a candidatura nas prévias do partido: o patamar de 10 a 15% de intenção de voto nas pesquisas feitas com eleitores de todo o país, contra 2% a 3% de preferência pelo governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. As projeções feitas, por dirigentes e líderes do PMDB, indicam que nos seis maiores colégios eleitorais do partido, que representam 60% dos peemedebistas com direito a voto nas prévias, Rigotto levará ampla vantagem em cinco: Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Goiás. Estes estados, mais Minas, representam 11.988 votos dos 20.099 eleitores das prévias.

Nos 13 maiores colégios eleitorais das prévias, que correspondem a 82,2% dos votos, Garotinho só leva vantagem sobre Rigotto no Rio de Janeiro, na Bahia e no Pará, nas contas dos dirigentes. A matemática de Garotinho é outra: ele estima levar cerca de 60% dos votos nas prévias de 19 de março. E lembra que, de acordo com as normas aprovadas na convenção do partido, em setembro do ano passado, o cálculo tem que levar em conta o peso percentual de cada estado. Assim, com os votos de Minas, São Paulo e Rio, ele afirma que terá 44,2% do total de votos da convenção. Minas corresponde a 12,66%, São Paulo a 18,3% e Rio a 13,9% do total. Ele diz ainda que vencerá em Espírito Santo, Goiás, Pará, Paraná e Mato Grosso.

¿ Os governistas estão calculando errado talvez pelo fato de estarem distantes do processo ¿ afirmou o ex-governador.

Ex-prefeito foi localizado em fazenda no Tocantins

Os dirigentes partidários dizem que Garotinho só leva vantagem porque está fazendo campanha sozinho. E que quando as direções regionais se posicionarem, a maioria dos eleitores acompanhará essa posição. Mas reconhecem que Garotinho não perderá todos os eleitores que conquistou com a abordagem direta. É o caso do ex-prefeito de Cacelândia (PR) Agenor Pasquale, que foi localizado por Garotinho em sua fazenda, no interior de Tocantins.

¿ Ninguém fez campanha, só o Garotinho. Claro que isso é reversível ¿ diz o presidente do PMDB da Bahia, o deputado Geddel Vieira Lima.

Os dirigentes regionais se sentem atropelados por Garotinho, que foi pedir votos diretamente aos prefeitos, vereadores e demais eleitores das prévias. Um dos mais contrariados com esta atitude do candidato é o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, que na sexta-feira fez um ato de apoio à candidatura Rigotto. Nas conversas com outros integrantes da cúpula do partido Quércia diz que Garotinho é agressivo.

¿ Nenhum governador ou candidato do PMDB ao governo apóia o Garotinho. Se ele for escolhido candidato vão abandoná-lo na campanha ¿ diz Quércia.

Rigotto: ¿As prévias vão me dar visibilidade¿

A balança está pendendo em favor de Rigotto também pelo fato de ele ser considerado mais fiel ao partido do que Garotinho, que em 2002 concorreu pelo PSB. Rigotto é tido como mais maleável, caso o partido decida mais tarde fazer uma coligação, abrindo mão da candidatura própria. Os governistas não ousam contestar publicamente a candidatura própria, mas avaliam que se Lula continuar subindo nas pesquisas de intenções de voto não haverá espaço para uma candidatura de terceira via. Já o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, diz que é ilusão imaginar que o partido não terá candidato.

¿ Com o fim da verticalização não há porque o PMDB não ter candidato ¿ afirma o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), que convocou uma reunião com todos os presidentes de diretórios em 15 de fevereiro para organizar as prévias marcadas para 19 de março.

O GLOBO ouviu integrantes das executivas regionais e deputados federais: as projeções apontam que Rigotto deve ter 85% dos votos no Rio Grande do Sul, 60% dos votos em São Paulo e 80% dos votos em Santa Catarina, que juntos representam 36,8% dos votos. Outros 22,8% dos votos estão no Paraná, onde Rigotto venceria Garotinho por 80% a 20%; e, Goiás, onde a estimativa é de 70% a 30% em favor de Rigotto.

¿ Estou otimista. Estou recebendo muito apoio e vou me licenciar no início de março para percorrer o país. As prévias vão dar a visibilidade de que preciso ¿ avalia Rigotto.

Em Minas, o quadro está mais favorável a Garotinho, que já fez sete incursões ao estado. No Nordeste, há divisão: Garotinho faz 70% a 30% na Bahia e Rigotto faz 60% a 40% no Maranhão. No Piauí a situação é de incerteza.