Título: LULA DÁ ULTIMATO AO PT: SEM APOIO INCONDICIONAL NÃO SERÁ CANDIDATO
Autor: Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 05/02/2006, O País, p. 4

Presidente quer conter críticas à política econômica e abrir caminho para alianças

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já entrou em campo para tentar enquadrar o PT em pelo menos dois pontos, de olho na reeleição: abrir caminho para as alianças nos estados e conter críticas à política econômica. Lula mandou um duro recado ao PT: ou o partido apóia sua reeleição de forma incondicional ou ele não será candidato. O ultimato, um jogo de cena, pretendia dobrar o PT e mostrar que não quer problemas para sua candidatura.

Uma corrente do PT ainda resiste às alianças e a ceder espaço a outros partidos nos estados. Lula, pessoalmente, tomou a frente e iniciou na semana passada uma série de conversas com presidentes de partidos para costurar uma coligação e discutir parcerias políticas.

A cúpula do partido assegurou ao presidente as condições necessárias para tornar viável o projeto da reeleição. Além disso, todos reconhecem que a sobrevivência do PT depende do sucesso eleitoral do presidente.

¿ Não existe um projeto de Lula sem o PT. Mas o Lula é mais amplo que o PT e o partido tem que entender isso. Tanto que ele teve mais voto que o PT. É preciso ter a percepção de que o governo é uma coalizão de partidos e que por isso Lula tem que fazer o palanque buscando a coalizão. A questão central em 2006 tem que ser a reeleição de Lula ¿ disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

Programa de governo e alianças, principais problemas

A prova mais recente do embate entre Lula e o PT foi a votação da lei que derrubou a verticalização. Contrário à medida, o PT só cedeu alguns votos para atender ao presidente.

Os principais conflitos entre Lula e o PT são o programa de governo (o PT quer uma inflexão na política econômica), a aliança nacional (Lula quer o maior número de partidos em sua coligação, e o PT resiste em receber o apoio de legendas envolvidas no escândalo do mensalão) e as alianças nos estados (o presidente quer impor aos candidatos petistas a composição com aliados).

¿ Todo mundo está consciente de que a reeleição de Lula será um marco para as esquerdas em todo o mundo. O PT vai apoiar a candidatura Lula, mas não abre mão de sua democracia interna ¿ diz o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), tentando amenizar as divergências.

O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, reconhece as divergências:

¿ O partido precisa ter maturidade para tentar conciliar as diferenças. Há interesses regionais conflitantes, mas quando há um projeto nacional prioritário, é preciso mediação para resolver o conflito de interesses.

O ex-ministro e ex-presidente do PT Tarso Genro apóia a busca de uma aliança ampla, e acredita que o centro dela tem que ser PT, PSB e PCdoB. Mas vê como fundamental a aproximação com o PMDB, mesmo que num segundo momento. E cobra mudanças no programa de governo, como o compromisso com ¿altas taxas de crescimento¿:

¿ As conquistas na estabilidade e na área social são irreversíveis. Mas é preciso apresentar um programa que dê conseqüência aos bons frutos.

O secretário-geral do PT nacional, Raul Pont, admite que a relação entre o presidente e o PT, mesmo depois do encontro em dezembro de Lula com a executiva, não avançou muito:

¿ A gente não está tendo a relação mais imediata que deveria ter com relação ao governo.

O governador do Acre, Jorge Viana, critica a pressa do PT em anunciar a candidatura de Lula:

¿ O presidente Lula não tem que ter pressa, tem que continuar a governar.