Título: SOLUÇÃO MILAGROSA
Autor:
Fonte: O Globo, 05/02/2006, Opinião, p. 6

As crises no Brasil provocam atordoamento nos líderes políticos, que procuram respostas milagrosas para resolvê-las ¿ e quase sempre erradas. A cada dor de barriga da debutante democracia brasileira surgem soluções que pareciam estar ali guardadas, à espera do problema para então serem retiradas da cartola como soluções mágicas.

A reforma política provada na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados parece ser uma dessas soluções mágicas. O projeto de lei que tramita desde 2001, sem que se tenha chegado a um consenso sobre o tema, de repente virou o remédio para todos os males do sistema político brasileiro.

É óbvio que mudanças são necessárias, como, por exemplo, a fidelidade partidária, evitando que políticos troquem de partido como trocam de roupa. Acredito também no financiamento público de campanha como forma de diminuir a influência do poder econômico na disputa eleitoral, além da redução do número de partidos, com o objetivo de termos ideologias mais sólidas. Os partidos deveriam ter um perfil muito bem delineado para que o povo pudesse conhecer as diversas correntes de pensamento com facilidade, e assim escolher seus candidatos, com o mesmo perfil, dentro do partido com o qual tiver mais afinidade.

Mais uma questão se apresenta: As listas fechadas. A quem interessa essa proposta? Não seria aos próprios deputados, já que eles encabeçariam as listas? E a renovação, que tão importante se faz nesse momento delicado do parlamento? Existem países que adotam o sistema de listas com flexibilidade, em que o eleitor estabelece a ordem de preferência dos candidatos. Talvez fosse uma boa prática a ser adotada.

O que não se pode permitir é que, por conta dos atuais escândalos, a reforma seja aprovada às carreiras sem que a população entenda o que de fato mudaria.

NELSON ROCHA é presidente do Conselho Regional de Contabilidade/RJ.