Título: ESCÂNDALOS DIFICULTAM APOIO DO CAPITAL A LULA
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 05/02/2006, O País, p. 14

Empresários também apontam falhas gerenciais do petista como problema; Alckmin aglutina mais adesões que Serra

SÃO PAULO. O empresariado nacional aguarda a definição do quadro eleitoral, principalmente a disputa interna no PSDB, para fazer suas apostas com vistas às eleições de outubro. Mas uma coisa é certa: seja contra Geraldo Alckmin, seja contra José Serra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dificilmente conseguirá reeditar a vitoriosa aliança capital-trabalho que o levou à Presidência em 2002.

Nas últimas duas semanas o GLOBO ouviu importantes empresários dos setores bancário, industrial e agrário. A maior parte deles pediu anonimato, mas externou consenso em pelo menos dois pontos: os escândalos de corrupção e as falhas gerenciais do governo dificultam o apoio a Lula, e Alckmin tem mais capacidade de aglutinar apoios no meio empresarial do que Serra.

¿ Entre Alckmin e Serra, a vantagem é de Alckmin. Mesmo assim, o empresariado deve preferir Serra a Lula, embora com o apoio de Antonio Palocci o PT possa conseguir algumas adesões, sobretudo no setor financeiro ¿ disse o cientista político Fernando Abrúcio, professor da FGV e da PUC-SP.

¿Quero ver quem será o vice e quais serão as alianças¿

Escândalos como o do mensalão inibem os empresários que gostariam de apoiar Lula e o PT publicamente. Em relação a Lula, o empresariado está atento quanto à escolha do vice.

¿ Fui um dos primeiros a apoiar Lula em 2002, mas agora ainda não me decidi. Quero ver quem será o vice e quais serão as alianças. Mas uma coisa eu garanto: Serra não apóio de jeito nenhum. Ele é muito centralizador e se acha o dono da verdade ¿ disse Sérgio Haberfeld, presidente da Associação Brasileira de Embalagens (Abre).

Para ele, os escândalos, os juros altos e o câmbio minaram a confiança em Lula e no PT.

¿ Reservadamente todo mundo anda dizendo que o Lula vencerá a eleição, a não ser que apareça algum escândalo que o atinja pessoalmente. Mas ele não terá o mesmo nível de apoio de 2002, com toda certeza. Quem pode apoiar são os banqueiros e os empresários mais preocupados com o Brasil do que com os próprios negócios ¿ avaliou Haberfeld.

No segundo grupo se inclui Ivo Rosset, dono da Valisère, amigo da ex-prefeita Marta Suplicy e destaque do neopetismo empresarial.

¿ Apoiarei Lula com toda certeza. Ele fez um grande governo ¿ disse Rosset.

Nem entre os empresários do agronegócio, um dos setores que mais cresceram no governo petista, Lula é unanimidade.

¿ Tenho pensado muito nisso. O Brasil nunca foi tão bem nas exportações, o Bolsa Família tem mais de dez milhões de famílias assistidas, o risco-Brasil nunca foi tão baixo e mesmo assim há uma insatisfação generalizada¿ disse Maurilio Biaggi Filho, um dos principais usineiros de cana-de-açúcar da região de Ribeirão Preto.