Título: PRESSÃO E VIOLÊNCIA NO CAMINHO DA MINUSTAH
Autor: Demétrio weber
Fonte: O Globo, 05/02/2006, O Mundo, p. 44

Força de paz liderada pelo Brasil sofre duras críticas por não conseguir avanços visíveis

PORTO PRÍNCIPE. Encarregada de pôr ordem num país onde sobra miséria e o passado político é uma colcha de golpes militares, ditaduras sanguinárias e abusos de poder, a Minustah enfrenta pressões de todos os lados. Desde que chegaram, as tropas de paz trabalham para viabilizar as eleições, mas não conseguem responder à fome e problemas sociais haitianos.

O embaixador do Brasil no Haiti, Paulo Pinto, elogia o trabalho da ONU e diz que o país vive hoje em melhor situação do que no início da missão, em junho de 2004. Mas entende que a comunidade internacional precisa acelerar a ajuda técnica e financeira para melhorar as condições de vida dos haitianos.

Morando há seis meses em Porto Príncipe, Pinto já aprendeu que energia, esgoto e água encanada são serviços inacessíveis à maior parte da população, que tem índice de analfabetismo de quase 50%. E que a face mais conhecida do poder público é a da Polícia Nacional do Haiti, famosa por sua truculência.

¿ A ONU fez aqui um trabalho excepcional. O problema do Haiti é que não há Estado. O país não tem capacidade de absorção imediata de grandes recursos por falta de estrutura governamental. Em décadas anteriores, o dinheiro doado foi parar em contas no exterior. A comunidade internacional está abrindo a torneira, só que deveria ter aberto mais rapidamente ¿ diz o embaixador brasileiro.

Para o comandante da Minustah, general José Elito Carvalho de Siqueira, a ação das tropas de paz mudou a face do país, abrindo caminho para o pleito.

¿ Após um ano e meio, a mudança é visível. A relação entre custo e benefício mais do que valeu a pena ¿ diz Elito.

O último balanço da ONU indica que 9.255 militares faziam parte das tropas ou da polícia internacional em janeiro. O Brasil tem o segundo maior contingente, com 1.200 homens, atrás apenas da Jordânia, com 1.499. O Uruguai enviou 966 soldados e é o terceiro maior.

Brasileiros patrulham área de alto risco na capital

O batalhão brasileiro é responsável pela segurança em bairros vizinhos a Cité Soleil, o mais violento de Porto Príncipe. Dezoito militares já foram feridos em combate, alguns em Cité Militaire. É lá que fica o chamado Posto 9, a 150 metros de Cité Soleil, onde um grupo de brasileiros faz vigilância 24 horas para inibir a ação de criminosos.

Crítico do envio das tropas de paz ao Haiti, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) veio acompanhar as eleições. Ele será um dos observadores internacionais.

¿ Tenho a expectativa de que as eleições corram bem. Mas entendo que a missão da ONU não resolveu alguns dos problemas essenciais, como ajuda internacional e recuperação da economia. Cada vez que volto aqui estou pensando numa saída para o Brasil ¿ diz Gabeira. (Demétrio Weber)