Título: Vendas de importados populares dobram e chegam a R$9 bilhões
Autor: Fabiaba Ribeiro
Fonte: O Globo, 05/02/2006, Economia, p. 30

Sete mil contêineres de produtos entre R$1 e R$20 chegaram ao Brasil

Em três anos, a venda de importados populares praticamente dobrou. O faturamento das lojas especializadas ¿ que vendem itens desde R$1 até R$20 ¿ saltou de R$4,8 bilhões em 2002 para R$9 bilhões no ano passado. Só em 2005, a expansão ficou em 47%. Foram ao todo sete mil contêineres com os mais diversos itens importados principalmente da China.

A queda do dólar (a cotação ficou 12,4% mais baixa em 2005) e o ganho de renda das classes mais baixas explicam esse desempenho, diz o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Produtos Populares (Abipp), Gustavo Dedivitis.

Para 2006, o setor já prevê faturar R$11 bilhões, uma alta de 22% frente ao ano passado:

¿ O poder de compra das classes C, D e E aumentou. Nosso segmento é um termômetro da renda, porque não se vendem a crédito itens que custam menos de R$20 ¿ diz Dedivitis.

Na Magazine Luiza, o crédito garantiu a venda de 14 mil computadores em dezembro. A rede conseguiu financiamento do BNDES para vender computadores populares e, em 12 dias, seu estoque esgotou. Em 14 de janeiro, renovou o estoque e, desde então, já vendeu mais 21 mil máquinas. O computador custa R$1.255 à vista ou 25 parcelas de R$69,90.

Para professor, não basta setor popular: classe média é vital

Para Cláudio Felisoni, diretor do Provar/FIA, da USP, não basta ter um consumo popular forte: o país precisa ampliar sua classe média.

¿ A sociedade de consumo se sustenta por uma classe média ampla e não pelo pobre.

Empresas e redes de varejo se esforçam para adequar seus produtos ao consumo popular. O Wal-Mart investirá este ano na expansão das bandeiras Todo Dia (duas unidades em São Paulo) e Balaio (oito no Nordeste). Para atender a esse cliente, 65% dos itens dos supermercados são alimentos. Já nos hipermercados, alimentos são 50%.

¿ Esse público exige sortimento adequado e preços baixos. Só que não está sendo atendido adequadamente. É isso que o Wal-Mart quer: crescer e crescer significa olhar para esse consumidor ¿ afirma Xavier Ezeta, vice-presidente de Operações da empresa.

O setor de telefonia também já despertou para esse segmento. A TIM, por exemplo, lançou no ano passado o plano ¿Conta Fixa¿, em que o cliente paga R$35 e, quando os créditos estiverem terminando, só recebe ligações. Para novas ligações, é preciso fazer uma recarga, como os clientes dos planos pré-pagos.

No mercado financeiro, os seguros foram os primeiros produtos a serem adaptados. Na Caixa Econômica Federal, as apólices a preços mais em conta já respondem por 60% da carteira de seguros de vida. No modelo mais barato, o custo começa em R$6,50 por mês.

A Porto Seguro lançou em 2002 seu seguro de vida voltado para consumidores de renda mais baixa. No ano passado, o número desses clientes cresceu 30%, contra uma expansão média de 15% a 17% nos demais seguros da empresa.

¿ Estamos estudando novos seguros para as classes D e E, com benefícios e coberturas próprios, que serão lançados no segundo semestre ¿ antecipa Fábio Luchetti, diretor de Vida e Previdência da empresa.