Título: COMERCIANTE REVELA COMO RECEBEU COTAS
Autor: José Castro , Chico Otavio e Toni Marques
Fonte: O Globo, 05/02/2006, O Mundo, p. 40

Amizade com chanceler iraquiano garantiu benefício. Transações eram feitas em Paris

Foi Tariq Aziz, chanceler e depois vice-presidente de Saddam Hussein, quem colocou o comerciante Fouad Sarhan na lista de beneficiados com cotas de petróleo da estatal iraquiana Somo. Aziz está preso e doente. Sarhan se mantém fiel e grato:

¿ É um amigo. E só dava cotas a quem era amigo.

Sarhan conta que recebia as cotas e ia à luta no mercado paralelo de petróleo. Quase sempre começava por Bagdá. Foi lá que conheceu o empresário e dirigente do MR-8 Nelson Chaves dos Santos e o traficante de armas Augusto Giangrandi. Não guarda simpatia do brasileiro (¿eu assumo o que fiz, já outros...¿). Preferiu fazer negócios com o vendedor de armamento.

¿- Nem precisei fazer muito esforço. Ele e os outros representantes de empresas de petróleo tinham informação lá de dentro (do Ministério do Petróleo) sobre quem recebia as cotas. Compravam e pagavam em Paris.

Giangrandi negociou com Sarhan a partir de 1999 usando uma de suas empresas, a Italtech. Os jornais ¿Il Sole¿, da Itália, e o ¿Financial Times¿, da Inglaterra, recentemente realizaram uma investigação conjunta sobre as atividades da Italtech no mercado de petróleo. Encontraram uma carta de Sarhan agradecendo a Giangrandi pela promessa de pagar ¿US$0,10 por barril para minha comissão¿. Sarhan desconversa. Limita-se a falar dos prejuízos que acumulou: sua residência, em São Paulo, foi penhorada.

O relatório final da comissão da ONU que investigou o pagamento de propinas no programa petróleo por comida se refere a Giangrandi como o negociador número um.

Foi com a ajuda de Giangrandi que a empresa americana Bayoil Supply & Trading se tornou a maior fornecedora de petróleo iraquiano vendido sob o monitoramento da ONU para o mercado americano.

Chegou a importar cerca de 20% de todo o petróleo do Iraque, sempre pagando sobretaxas. Forneceu mais de 200 milhões de barris para os EUA e outro tanto para a Europa. O dono da empresa, David Chalmers Jr., foi indiciado pelo governo americano no ano passado, por violação do embargo da ONU ao Iraque e conspiração para cometer fraudes financeiras. Chalmers Jr. alega inocência. Giangrandi preferiu um acordo com a promotoria: aceitou a delação premiada.