Título: IRÃ É DENUNCIADO À ONU POR PROGRAMA NUCLEAR
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Fonte: O Globo, 05/02/2006, O Mundo, p. 42

Brasil vota com a maioria contra Teerã, que declara o fim da diplomacia e reinicia enriquecimento de urânio

VIENA. O Conselho da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aprovou ontem por 27 votos, três contra e cinco abstenções, o encaminhamento de uma denúncia contra o programa nuclear iraniano ao Conselho de Segurança da ONU. O documento faz exigências ao Irã, como maior transparência e suspensão das atividades de enriquecimento de urânio, que levanta suspeitas de boa parte da comunidade internacional de que Teerã esteja desenvolvendo armas nucleares.

Logo após a decisão, o negociador do Irã, Javad Vaeedi, disse que o país proibirá imediatamente as inspeções da ONU em suas instalações nucleares e iniciará um ¿amplo programa de enriquecimento de urânio¿. Afirmou ainda que o fato de o programa do Irã ser levado ao Conselho de Segurança representará o fim da diplomacia.

Em Teerã, o presidente Mahmoud Ahmadinejad suspendeu a licença para a AIEA inspecionar instalações nucleares do país, mas nada declarou sobre reprocessamento de urânio. Um porta-voz negou que ele tenha dado ordens para o reinício dessa atividade.

Conselho de Segurança não agirá antes de um mês

O Brasil foi um dos países que votaram com a maioria. Abstiveram-se Argélia, África do Sul, Indonésia, Líbia e Bielorrússia. Cuba, Venezuela e Síria foram contra a resolução. Para obter o apoio de Rússia e China ¿ aliados do Irã que resistiam inicialmente à idéia de levar o caso ao Conselho de Segurança ¿ a resolução aprovada ontem adia por um mês qualquer ação contra o regime de Teerã. A decisão da AIEA representa uma derrota para a estratégia adotada há dois anos e meio por França, Reino Unido e Alemanha, baseada na premissa de que o Irã poderia ser convencido diplomaticamente a suspender as atividades nucleares.

Por outro lado, foi uma vitória para o governo Bush, que insiste ter dados de inteligência que mostrariam a intenção de Teerã de desenvolver armas nucleares ¿ o Irã alega que seu programa é para fins pacíficos. Até agora, o governo americano tem indicado ser favorável a uma estratégia baseada na diplomacia, e não em ações militares, e afasta a possibilidade imediata de sanções ou medidas punitivas contra o Irã.

Governo brasileiro explica seu voto contra Teerã

Em Brasília, o governo brasileiro divulgou uma nota informando ter votado a favor da resolução. Segundo o Itamaraty, o voto teve como principal critério o fato de que não serão adotadas ações imediatas, incluindo sanções aos iranianos, até o mês de março, quando deverá ser divulgado um relatório da AIEA demonstrando se aquele país está ou não atuando nessa área, inclusive em enriquecimento de urânio para fins pacíficos.

¿O Brasil confia em que o Irã esclarecerá as questões formuladas pela AIEA no mais breve prazo possível. Confia, igualmente, em que os passos que venha a adotar o Irã nessa matéria sejam devidamente reconhecidos pela comunidade internacional¿, diz um trecho do comunicado, que exorta os iranianos e os membros do Conselho de Segurança a se absterem de medidas e gestos que possam levar a um agravamento da situação.

COLABOROU Eliane Oliveira, de Brasília