Título: POR UM PUNHADO DE DÓLARES
Autor: Elis Monteiro
Fonte: O Globo, 06/02/2006, Informáticaetc, p. 1

Submissão do Google ao governo chinês provoca ira dos defensores da liberdade

Vestidos de camiseta verde e amarela com um slogan do Google homenageando o Brasil, Larry Page e Sergey Brin, os dois bilionários criadores da mais popular ferramenta de buscas do mundo, apareceram no Brasil, semana passada, dispostos a conhecer seus dois escritórios, em São Paulo e Belo Horizonte. Pelo menos essa foi a justificativa dada à imprensa, convidada de surpresa para um encontro com os dois jovens fundadores da marca mais forte do planeta. Simpáticos e acessíveis, Page e Brin vieram direto de Davos, na Suíça, onde participaram do Fórum Econômico Social, para uma visita surpresa ao país que, segundo eles, tem um potencial enorme a ser explorado.

A primeira parada deles foi numa das principais usinas de álcool do país, a Cosan, no interior de São Paulo, o que levantou a hipótese de a dupla estar pensando em diversificar seus negócios. A visita ao Brasil aconteceu justamente na semana em que a internet inteira se perguntava: por que a Google, empresa considerada ¿boazinha¿ e que inclusive usa o slogan ¿don't be evil¿ (não seja mau), aceitou se submeter à censura prévia do governo chinês, que a obrigou a cercear as buscas dos usuários daquele país? Em São Paulo, Sergey Brin respondeu:

¿ O caso da China é muito complexo. Nasci em Moscou em 1973, ou seja, controle de governo é uma coisa da qual eu entendo e não gosto. Mas conversamos com grupos de direitos humanos e decidimos que seria muito melhor entrar naquele mercado, para que as pessoas de lá tivessem acesso a informação e comunicação ¿ disse.

Não é só isso, claro. O mercado chinês tem, hoje, 115 milhões de usuários de internet e um potencial inesgotável de crescimento. Não dava para o Google abrir mão dele. Quando conversou com o GLOBO, Page não negou isso. Seria a decisão de acatar a censura do governo chinês contraditória com a ideologia do Google de ¿fazer sempre o bem¿?

¿ Não dá para negar informação a um bilhão de pessoas. Há 115 milhões de chineses que acessam a internet e precisam de informações para seu trabalho ¿ disse Page.

Não é nem de longe a opinião da maioria. Lá fora, a discussão ainda ferve. Na quarta-feira, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Representantes dos EUA não só criticou a decisão da Google ¿ assim como as de Microsoft e Yahoo! ¿ de capitular frente a Pequim, como anunciou que pretende elaborar um código de conduta para coibir este tipo de atitude.

Mas, peraí: será que tem santo nesta história?

Continua nas páginas 2, 3 e 5