Título: EUA X Google: aquele cheiro de hipocrisia no ar
Autor: André Machado e Elis Monteiro
Fonte: O Globo, 06/02/2006, Informáticaetc, p. 17

Governo americano quer registros de usuários na ferramenta de buscas. Sim, eles existem, como proteger-se?

Sim, é verdade que a China está na berlinda nessa história toda. Mas a reação de políticos do Congresso americano à censura na China e à atitude das empresas techie tem um cheirinho de hipocrisia. Afinal, o Communications Act do governo americano, lei originalmente criada para proibir ligações telefônicas anônimas visando a difamar, ofender ou ameaçar pessoas, foi recentemente atualizado para estender a criminalização de tal anonimato a qualquer tipo de comunicação feita via software e/ou internet.

É o que apontou há pouco em artigo o advogado americano Eric Sinrod. Ele diz que essa lei preocupa e entra em conflito com os direitos assegurados pela Constituição dos Estados Unidos. O título de seu artigo (publicado na News.com) é sugestivo: ¿A erosão do discurso anônimo na internet.¿

Se os deputados americanos reagiram, alguns dos comentários dos leitores à notícia da reação foram no mínimo indignados. O mais contundente disse que os deputados que criticaram o episódio foram os mesmos que votaram a favor de relações comerciais abertas e permanentes com a China em 2000 (o termo para esse status era então Most Favored Nation, e foi posteriormente mudado para Normal Trading Relations).

Em 2004, China era ¿o mal¿. O que mudou agora?

Enquanto isso, um FAQ sobre políticas de privacidade de ferramentas de buscas foi postado na rede, reativando os velhos medos da privacidade ameaçada pelas informações coletadas pelas ferramentas de busca. Além de provar por A + B que Google e cia guardam, sim, os registros de buscas de todos os usuários ¿ e podem ser obrigados a entregá-los na justiça ¿ a FAQ mostra como os usuários podem proteger sua privacidade ¿ com medidas como limpar o histórico do browser, encriptação do HD via PGP e assim por diante. Está em .

Enquanto isso, no site ¿Watch Google¿ , que, como outros, tomou para si a missão de acompanhar os passos da empresa de Larry Page e Sergey Brin, a decisão do Google foi contestada. O responsável pelo site acusou Brin e Page de mentirosos e, para provar seu ponto de vista, transcreveu uma entrevista dada por eles à ¿Playboy¿ em abril de 2004, na qual diziam que não estavam nada felizes com as políticas dos portais que tinham aceitado as condições do governo chinês de restrição de conteúdo em troca da presença em mercado tão promissor. Ou seja, de 2004 para cá alguma coisa mudou na percepção dos fundadores da Google.

De acordo com publicações americanas e européias, a grande perda para a Google neste episódio será a aura de ¿boa empresa¿, ou seja, o slogan ¿don't be evil¿ pode ter perdido o sentido. Depois de uma visita relaxante ao Brasil ¿ regada a hospedagem no Copacabana Palace, no Rio, e visita a São Paulo e Belo Horizonte ¿ caberá a Larry Page e Sergey Brin provarem que ainda dá tempo de reparar tal estrago. Será?