Título: Cabo-de-guerra
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 06/02/2006, O GLOBO, p. 2

A possibilidade de o PMDB lançar um candidato com viabilidade eleitoral para disputar as eleições presidenciais atemoriza petistas e tucanos. Por isso, os dois partidos estão desde já unidos com o objetivo de desmantelar a candidatura peemedebista. Não passa um dia sequer sem que um ministro do governo Lula ou um cacique do PSDB diga que estão cooptando parcela do partido.

O fato de o PMDB ter abandonado seus candidatos a presidente Ulysses Guimarães, em 1989, e Orestes Quércia, em 1994, permite supor que o mesmo acontecerá com o vencedor das prévias de 19 de março. Uns dizem: se Anthony Garotinho vencer as prévias, os governistas vão apoiar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Outros dizem: se Germano Rigotto perder, o seu grupo vai fazer campanha para o candidato tucano. Num cenário em que se prevê, de acordo com as pesquisas de intenções de voto, uma disputa dura e equilibrada, os dois mais fortes candidatos precisam buscar apoios. Por isso, desde já tucanos e petistas tentam articular alianças com os dirigentes regionais peemedebistas. A ordem nos dois principais partidos do país é estraçalhar o PMDB. Como diz um aliado do presidente Lula, o governo tem que fechar o apoio do PMDB e, se isso não for possível, é preciso dividi-lo e imobilizá-lo. Por isso, o governador Jarbas Vasconcelos (PE) diz que a principal tarefa do vencedor das prévias é ganhar o partido para, a partir daí, empolgar a opinião pública.

O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), reconhece que seu partido virou um campo de batalha e que, mais uma vez, existe a pretensão de esquartejá-lo. Mas diz que, desta vez, isso ocorre porque existe de fato espaço para uma candidatura alternativa que rompa a polarização entre o PT e o PSDB. Os defensores da candidatura própria lembram que o PMDB passou ao largo da crise ética, que atingiu em cheio o PT e, nas bordas, o PSDB. Citando as pesquisas, os peemedebistas dizem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito de São Paulo, José Serra, lideram a corrida sucessória porque são dois homens públicos amplamente conhecidos. Mas acrescentam que isso não implica o apoio da sociedade aos projetos do PT e do PSDB. Sem Lula, o PT não tem um candidato competitivo. O mesmo ocorre no PSDB, como mostram as pesquisas, quando os candidatos são o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ou o governador Geraldo Alckmin.