Título: LULA AVISA: TUDO PELO PMDB
Autor: Gerson Camarotti e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 06/02/2006, O País, p. 3

Planalto deflagra operação para tentar aliança e oferece até a vaga de vice

OPalácio do Planalto decidiu deflagrar nos bastidores uma operação para tentar formalizar uma aliança com o PMDB para as eleições de 2006. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que vai fazer de tudo para ter o partido em sua chapa, inclusive com a indicação do nome para a vaga de vice. A estratégia deve ganhar força com a recuperação de Lula nas pesquisas: segundo o Datafolha, Lula teria voltado ao patamar em que estava antes da denúncia do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o mensalão.

Neste fim de semana, a cúpula palaciana comemorou os números que indicam o crescimento da popularidade de Lula. A expectativa no núcleo do governo é que um aumento mais consistente das chances da reeleição de Lula possa atrair um segmento mais forte do PMDB. Nos últimos dias, o presidente tem feito uma aproximação intensa com caciques do partido.

Caso Lula não consiga atrair o partido por inteiro, vai tentar o apoio da ala governista. Em conversas reservadas, Lula admite que será difícil conseguir unir o PMDB em torno de sua candidatura. Mas deixou claro para caciques peemedebistas que sua reeleição precisa ser acompanhada de um projeto de garantia de governabilidade para o segundo mandato. E, para o presidente, só o PMDB pode assegurar isso.

¿ Sabemos que atrair o PMDB não será tarefa fácil. Mas é nossa prioridade. O partido é importante não apenas para a aliança da chapa de Lula, mas principalmente para a governabilidade ¿ reconhece o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

Lula aguardará a decisão do PMDB até a data-limite para a escolha da chapa presidencial, em junho. Segundo assessores, Lula sabe que tem que ter paciência e está disposto negociar o que puder para conseguir o apoio.

¿ Vamos fazer de tudo para ter o PMDB ao nosso lado ¿ reforça o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

A estratégia do Planalto é aguardar todos os passos do PMDB. Em recente conversa com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP), a tática ficou bem definida. Lula ouviu dos dois que a primeira tarefa da ala governista do PMDB é derrotar a pré-candidatura presidencial do ex-governador do Rio Anthony Garotinho nas prévias marcadas para março.

Esvaziar Rigotto para ter Jobim como vice

Num segundo momento, os peemedebistas mais ligados ao Planalto devem trabalhar pelo esvaziamento da candidatura do governador Germano Rigotto (PMDB-RS). Caso Rigotto não decole nas pesquisas, a ala governista vai investir numa aliança formal com Lula. Para esta hipótese, Lula quer o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, como vice em sua chapa.

¿ Lula está cada vez mais próximo de Jobim ¿ confidencia um ministro petista.

Os movimentos de Lula estão tão avançados que no Planalto já se cogita o nome de Renan Calheiros como plano B, na impossibilidade de Jobim. A aliança Lula-PMDB chegou a ser celebrada há duas semanas, quando o presidente agiu para derrubar a verticalização. O empenho de Lula teve como objetivo deixar livre o PMDB para fazer alianças e foi reconhecido por líderes do partido. O grupo governista do PMDB também trabalha neste sentido.

¿ A retomada da popularidade de Lula vai atrair os partidos. A possibilidade de vitória deve empolgar os aliados ¿ aposta o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner.

Mas a tarefa não parece tão fácil assim. Rigotto, pré-candidato na prévia do PMDB, afirmou ser natural o interesse do Planalto em ter o partido como aliado, pois o PMDB tem força e capilaridade no país e se constitui numa possibilidade de quebra da polarização entre PSDB e PT. O governador do Rio Grande do Sul, no entanto, disse que a candidatura própria à Presidência da República é irreversível e os líderes que defendem a tese da aliança com o PT ¿ e até mesmo com o PSDB ¿ terão de se submeter à vontade da maioria do PMDB, ou serão derrotados no partido.

¿ Já ouvi muito essa história (interesse do Planalto na aliança com o PMDB). Deveriam antes ouvir o que pensa a base do PMDB. Na base é cada vez mais forte a vontade de candidatura própria. É irreversível. Se eles têm expectativa, vontade e esperança de fazerem aliança com o PMDB, vão ficar na expectativa, na vontade e na esperança ¿ disse Rigotto.

O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), também defende a candidatura própria.