Título: CENÁRIO MAIS FAVORÁVEL À RENDA FIXA FAZ CAPTAÇÃO ATINGIR R$5,6 BILHÕES
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 06/02/2006, Economia, p. 16

Aplicação rende 1,50%, tem maior ganho em dez meses e supera DI

A inflação mais alta em janeiro, a queda acima do esperado da Taxa Selic e a expectativa de um corte maior de juros em março levaram os fundos de renda fixa a superar largamente o ganho do DI, garantindo à categoria o maior rendimento dos últimos dez meses. Os fundos de renda fixa tiveram rentabilidade bruta (isto é, sem o desconto do Imposto de Renda) de 1,50% em janeiro e os DI, de 1,39%, segundo dados levantados pelo site Fortuna. Com isso, as duas categorias, que costumam ter um desempenho bastante parecido, registraram, no mês passado, a maior diferença de rentabilidade desde junho de 2004, quando os fundos DI avançaram 1,21% e os de renda fixa, 1,34%.

Com o ganho maior, a captação dos fundos explodiu em janeiro: os de renda fixa atraíram R$5,6 bilhões em novos recursos, enquanto em dezembro a categoria captara apenas R$639 milhões.

¿ Tivemos uma procura enorme por esses fundos em janeiro, mas alertamos os investidores que, daqui para a frente, os ganhos não devem ser mais tão elevados ¿ diz Renato Ramos, diretor de renda fixa da HSBC Asset Management.

Renato Motta, analista de renda fixa da Máxima Asset Management, acredita que, apesar da estimativa de acomodação de preços nos próximos meses, os fundos de renda fixa continuarão a ter ganhos superiores aos DI, devido à expectativa de que a queda de juros seja acelerada a curto prazo. É justamente neste cenário, explica o economista Marcelo D¿Agosto, sócio do Fortuna, que os fundos de renda fixa têm um bom desempenho: como a maior parte da carteira está aplicada em títulos prefixados, os investidores ganham quando a queda de juros acontece num ritmo maior que o projetado pelo mercado.

Mercado prevê queda da inflação e dos juros

Ronaldo Guimarães, sócio da Cenário Investimentos, diz que as estimativas são de que a inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) fique em 0,35% em fevereiro, ante 0,92% no mês passado. E, com a inflação sob controle, acredita ele, o Banco Central (BC) dará prosseguimento à queda mais acelerada dos juros, iniciada em janeiro.

¿ Os papéis atrelados à inflação são um componente importante também nos fundos de renda fixa, embora em parcela bem menor que os prefixados. E a mesma inflação que, ao subir, garantiu ganhos maiores aos fundos de renda fixa permitirá, ao cair, um corte mais acelerado da taxa Selic, em torno de 0,75 ponto percentual. Mas, como as estimativas são de juros cada vez mais baixos, talvez já fosse hora de o investidor começar a diversificar aplicações ¿ avalia Guimarães.

Delano Franco, diretor-presidente da Mellon Global Investments-Brasil, recomenda a aplicação em fundos multimercado ¿ que investem em juros, bolsa, dólar e títulos da dívida e, após meses de perdas, recuperaram rentabilidade em janeiro ¿ ou na Bolsa:

¿ Como os DI e renda fixa tendem a voltar a ter ganhos mais baixos, acredito que parte dos recursos migrará para aplicações de maior risco, em busca de uma rentabilidade maior. Os multimercado, por exemplo, têm sido beneficiados pela forte queda do dólar e pela alta recente da Bolsa, que subiu mais de 14% apenas em janeiro. A maioria dos gestores de multimercado havia apostado alto numa queda do dólar, o que acabou se confirmando no mês passado. A Bolsa também é uma boa opção, porque tende a se valorizar até o fim do ano.

O estudante de administração Fábio Costa seguiu a dica à risca. Após a forte alta dos fundos de renda fixa em janeiro, decidiu migrar parte dos recursos para ações, em busca de ganhos mais altos:

¿ Mas também continuo com parte em renda fixa para ganhar com os juros menores ¿ explica.