Título: PALOCCI DEFENDE `ACORDO SOCIAL¿ PARA GARANTIR CRESCIMENTO VIGOROSO DO PAÍS
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 07/02/2006, Economia, p. 18

Ministro diz que acerto passa pela redução e melhoria de gastos públicos

SÃO PAULO e RIO. Em palestra a executivos de bancos e empresas em São Paulo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, defendeu ontem um ¿acordo social¿ para garantir um crescimento mais vigoroso para o país. Sem dar outros detalhes da sua proposta, Palocci sugeriu que esse entendimento deve passar pela redução e melhoria do gasto público e pela manutenção da política fiscal, que tem garantido ao governo sucessivos recordes na arrecadação de impostos.

¿ Que prazo o Brasil quer ser grau de investimento? Que prazo quer crescer a níveis de 5%? Para isso, tem de ter esforço, precisa ter um acordo no país sobre níveis tributários, níveis de gastos, programas que vão ser feitos ¿ afirmou o ministro.

Na seqüência, Palocci disse que o governo é cobrado por todos os lados ¿ ¿um lado cobra redução de tributos e um outro que cobra (a liberação) de recursos¿ ¿ o que exigiria um equilíbrio.

¿ É preciso equilibrar esse gasto, mas não pode ser simplesmente uma gestão do governo, mas ser um olhar da sociedade. As lideranças da sociedade precisam ter uma ação comum, que é suprapartidária, de acordo social sobre que velocidade nós queremos dar ao crescimento do país ¿ disse.

No Rio, Levy cita gastos crescentes da Previdência

Palocci disse ainda que, independentemente de mudanças de comando do país, não existiria espaço para diminuição do esforço fiscal. Segundo ele, é preciso gastar menos e melhor.

¿ Não há ainda condições de o Brasil ter qualquer relaxamento fiscal. Não podemos ter ansiedade com isso, pois quem deve tem de economizar e pagar suas dívidas ¿ disse Palocci.

Em 2005, o setor público registrou superávit fiscal primário (que exclui o pagamento de juros) de 4,84% do PIB, acima da meta de 4,25%.

No Rio, o secretário do Tesouro Joaquim Levy fez coro ao ministro, afirmando que a sociedade brasileira precisa discutir que tipo de ajuste fiscal quer levar adiante. Segundo Levy, melhora fiscal não é só obter superávit primário. O secretário defendeu que se discutam os grandes gastos do governo, e citou as despesas crescentes com a Previdência:

¿ Não adianta diminuir clipe ou apagar a luz. Tudo isso é importante. Mas a discussão para ter solidez tem que tratar das grandes pressões ¿ disse o secretário, que participou do seminário Cenários da Economia Brasileira e Mundial em 2006, organizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com a Firjan e apoio do Globo Online.

Para Levy, os gastos com a Previdência no Brasil são elevados para qualquer parâmetro internacional. Ele citou a Índia, onde essas despesas respondem por 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas pelo país), valor que no Brasil, segundo Levy, é dez a 15 vezes maior.

Economista diz que Estado virou um buraco negro

Palocci mostrou confiança em relação às perspectivas de crescimento do PIB este ano. O ministro aposta em um ¿crescimento forte¿ porque, segundo ele, as condições que levaram a economia a desacelerar no fim de 2005 já teriam se dissipado. Entre essas condições, ele citou os efeitos da crise política (que abateu o ânimo dos empresários) e da elevação dos juros.

¿ A política monetária tem custos, mas produz efeitos positivos de longo prazo para o controle da inflação.

O ministro rejeitou uma comparação entre o desempenho apresentado pelo Brasil e o da China, que cresceu 10,1% em 2004 e 9,8% no ano passado. Segundo Palocci, é preciso levar em consideração as condições particulares de cada país.

¿ Não podemos querer só o crescimento chinês, o marco regulatório americano, o almoço italiano e o jantar francês. O debate não é por que o Brasil não cresce como a China, mas por que o Brasil não cresce mais do que o Brasil já cresceu.

Para o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, que participou da palestra, o crescimento previsto por Palocci é possível, mas não provável.

¿ O problema do Brasil hoje é que a carga tributária absorve 37% da renda dos brasileiros. O Estado virou um buraco negro ¿ disse ele.

COLABOROU Luciana Rodrigues