Título: BRASIL PEDE SALVAGUARDAS PARA TRIGO, ARROZ E VINHO
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 07/02/2006, Economia, p. 19

Empresários aproveitam mecanismo proposto pela Argentina e tentam proteger mercado de produtos do país vizinho

BRASÍLIA. Os produtores gaúchos se anteciparam aos argentinos e já estão pedindo salvaguardas ao governo brasileiro com base no acordo firmado na semana passada, entre Brasil e Argentina, que criou o Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC). Segundo fontes do Ministério da Agricultura, está sendo analisada, no momento, a possibilidade de se impor cotas às importações de trigo, arroz e vinhos do país vizinho. Reivindicado com insistência pelas autoridades argentinas, o MAC permite a proteção temporária dos empresários locais contra o ingresso dos importados.

Os pedidos dos brasileiros não deverão se resumir a esses três produtos. Segundo o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, Carlos Sperotto, o setor já vinha solicitando ao governo, antes do acordo entre os dois países, proteção também para cebola e derivados de leite.

¿ Chegamos a protocolar os pedidos no final do ano passado e conversamos sobre o assunto com o presidente Lula duas vezes. A diferença era que as salvaguardas que pedíamos eram para todo o Mercosul. Se o MAC for estendido para os demais países do bloco, não hesitaremos em pedir proteção contra o arroz uruguaio também ¿ antecipou Sperotto.

¿ As salvaguardas específicas para a Argentina já ajudam bastante e, no momento oportuno, estenderemos o pedido envolvendo o Uruguai ¿ confirmou Francisco Lineu Schardong, da Câmara Setorial do Arroz.

A maioria das exportações brasileiras para a Argentina é de produtos industrializados, enquanto, no caso do Brasil, a maior parte das importações da Argentina é de produtos agrícolas. Na lista de prováveis itens alvos de salvaguardas a serem solicitadas por empresários daquele país, destacam-se automóveis, frangos, carne suína, eletrodomésticos e calçados.

Pelo acordo firmado na semana passada ¿ que provocou protestos do setor industrial brasileiro, mas agradou aos produtores agrícolas, principalmente os do Sul do país ¿ toda vez que houver um surto de importação, as compras do produto serão limitadas. Mas isso só ocorrerá depois de uma negociação envolvendo os governos e os empresários dos dois lados.

O coordenador Político do Mercosul, o argentino Carlos Álvarez, veio ontem ao Brasil cobrar do presidente Lula e de representantes do Congresso a aprovação do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul, regulamentado no fim do ano passado com um orçamento de US$100 milhões.

O fundo seria usado para corrigir as assimetrias econômico-comerciais entre os sócios a partir deste ano. Os parlamentos de Uruguai e Paraguai já aprovaram. Com a liberação dos recursos do fundo, espera-se a redução do grau de descontentamento de uruguaios e paraguaios frente ao acordo de salvaguardas firmado na semana passada por brasileiros e argentinos.