Título: UM PAÍS SURPRESO DIANTE DE SUA IMAGEM NEGATIVA
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Fonte: O Globo, 07/02/2006, O Mundo, p. 23

Dinamarqueses buscam explicações

COPENHAGUE. Antes um exemplo da tranqüilidade escandinava, a Dinamarca é hoje o epicentro de um choque de civilizações. Quatro meses depois de o ¿Jyllands-Posten¿ publicar 12 charges do profeta Maomé, uma nação que costumava ser acolhida calorosamente no mundo se choca ao ver sua bandeira sendo queimada por muçulmanos, seus diplomatas sendo ameaçados e seus produtos sendo boicotados, com um prejuízo diário de milhões de dólares a suas empresas.

O país, durante anos um dos mais generosos em ajuda ao mundo islâmico, é hoje visto por muçulmanos como maligno. Diante das imagens na TV de embaixadas dinamarquesas sendo incendiadas por manifestantes furiosos, a estudante Lea Steen, de 28 anos, admite:

¿ Estou com medo. O que víamos antes acontecer com as bandeiras americana e israelense de repente se tornou algo mais perto da nossa rotina.

Durante décadas a Dinamarca recebeu muitos imigrantes e mobilizou seu Exército para missões de paz no mundo. Hoje, vê-se forçada a rever suas atitudes. Mas muitos dos quase 200 mil muçulmanos na Dinamarca vêem o país de outra maneira: queixam-se de discriminação. Cerca de 15 mil seriam leais ao grupo de imãs de Copenhague que denunciou as charges no Oriente Médio.

Os muçulmanos teriam se sentido mais oprimidos quando as leis de imigração se tornaram mais rígidas, em 2002, impondo restrições a que cônjuges nascidos no exterior fossem trazidos para o país. Analistas suspeitam que o tratamento dado a imigrantes pode ser o motivo por trás do movimento muçulmano iniciado no país.

¿ A percepção geral no mundo árabe sobre os países escandinavos como tolerantes e generosos sofreu um grande golpe ¿ diz Ole Woehlers Olsen, do Instituto Dinamarquês para Estudos Internacionais.