Título: Irã rompe negócios com Dinamarca
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Fonte: O Globo, 07/02/2006, O Mundo, p. 23
Sete pessoas morrem em protestos contra europeus e Noruega denuncia Síria à ONU
TEERÃ
Protestos de muçulmanos contra países europeus cujos jornais publicaram charges de Maomé se tornaram mais violentos ontem, com novos ataques a embaixadas européias em países islâmicos. Sete pessoas já morreram durante protestos, seis delas ontem em Afeganistão e Somália. A crise aumentou também no front diplomático: o Irã cortou relações comerciais com a Dinamarca e a Noruega entrou com uma representação na ONU contra a Síria, acusando o país de ter permitido que sua embaixada fosse incendiada.
Cinco mortes ocorreram no Afeganistão, três delas na província de Laghman. Após queimarem bandeiras da Dinamarca, manifestantes tentaram invadir uma delegacia e foram recebidos a tiros. Outros dois radicais foram mortos por policiais afegãos ao entrarem na base americana de Bagram.
A sexta morte do dia ocorreu na Somália. Durante um choque entre manifestantes e policiais, um rapaz de 14 anos foi morto a tiros. No domingo, um radical que invadira a embaixada da Dinamarca no Líbano morreu no incêndio provocado pelo grupo. Ontem, Beirute pediu desculpas a Copenhague pela destruição da embaixada.
Atitude diferente foi tomada pelo governo iraniano.
¿ Todas as relações comerciais com a Dinamarca foram cortadas ¿ anunciou o ministro do Comércio iraniano, Massoud Mirkazemi.
Ele disse que a partir de hoje todos os produtos dinamarqueses serão impedidos de entrar no país, que tem a quarta maior reserva conhecida de petróleo do mundo. O Irã importa US$280 milhões da Dinamarca por ano.
O anúncio foi feito no dia em que mil manifestantes atiraram bombas incendiárias na embaixada da Dinamarca em Teerã. A polícia impediu uma invasão lançando bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o grupo.
Horas antes, 200 manifestantes atiraram pedras na embaixada da Áustria, país que ocupa a presidência rotativa da União Européia.
Kofi Annan pede calma e diálogo
Ontem, 200 deputados iranianos divulgaram uma declaração em que advertiram os países europeus de que poderia ser feita uma fatwa (decreto islâmico) contra os responsáveis pela publicação das charges. O aiatolá Khomeini lançou mão deste artifício para condenar o escritor britânico Salman Rushdie à morte em 1989.
A Dinamarca tem sido o principal foco do ódio dos radicais islâmicos. Em setembro, um jornal publicou numa reportagem sobre liberdade de expressão charges com a imagem de Maomé. Com a repercussão, jornais de todo o mundo, principalmente na Europa, republicaram os desenhos.
Ontem a Liga Árabe-Européia colocou em seu site uma charge em que Adolf Hitler está na cama com Anne Frank, alegando estar fazendo o mesmo que os jornais europeus. Mas charges ofensivas ao Ocidente e, principalmente, aos judeus têm sido lugar comum na imprensa de países islâmicos.
O premier da Noruega, Jens Stoltenberg, denunciou a Síria à ONU, condenando a destruição de sua embaixada em Damasco. O país exigiu uma indenização. O chanceler Jonas Store disse ter ficado surpreso pelo fato de o ataque do fim de semana não ter sido repelido, insinuando que isso teria sido feito caso o governo sírio desejasse.
No Reino Unido, a Scotland Yard anunciou que prenderá quem incitar a violência. Isto é uma resposta a passeatas em que muçulmanos ameaçavam fazer ¿outro 11 de Setembro¿ no país. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pediu calma ontem:
¿ Exorto todos aqueles que têm autoridade ou influência a retomar o diálogo e construir uma aliança de civilizações, baseada no respeito mútuo ¿ disse ele, em Dubai.
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