Título: Acerto de suspensões e combustíveis alternativos são excelências nacionais
Autor: Rogério Louro
Fonte: O Globo, 08/02/2006, Carroetc, p. 1

Sistemas de produção de veículos também viraram itens de exportação

A habilidade nacional foi importante para a Fiat italiana permitir que a filial brasileira construísse um centro completo de desenvolvimento de produtos em Betim, Minas Gerais. É o único que a marca mantém fora da Itália.

A GM e a Fiat prevêem que aumentarão os serviços de engenharia prestados a outras filiais e às matrizes de seus grupos. Da mesma forma, funcionários brasileiros da Ford e da Volks, cada vez mais, são chamados para fazer parte de projetos internacionais.

A história se repete nas fabricantes nacionais de componentes de veículos.

¿ Antigamente, mandávamos engenheiros ao exterior para aprender. Hoje, eles saem para levar experiência. E muitos estrangeiros estão vindo para cá para ver como trabalhamos ¿ afirma Fábio Ferreira, gerente de Aplicação de Produtos da Bosch.

Buracos e quebra-molas fazem bem a engenheiros

Há duas áreas, em especial, em que a engenharia brasileira é considerada muito avançada: combustíveis alternativos e suspensão.

Numa época em que o Primeiro Mundo busca soluções para reduzir a dependência do petróleo, a experiência brasileira com motores flexfuel é cada vez mais respeitada.

¿ Já tínhamos a experiência com o álcool combustível, mas, a partir dele, desenvolvemos muito os sistemas flexfuel surgidos no exterior. Hoje, somos referência mundial nesta tecnologia ¿ diz Ferreira.

Filiais brasileiras das fabricas de sistemas bicombustíveis Bosch, Delphi e Magneti Marelli são consideradas ¿centros de competência¿ pelas matrizes.

¿ Também estamos muito desenvolvidos no uso de gás natural, tanto que já desenvolvemos motores que funcionam com três combustíveis ¿ lembra Gábor Deák, da SAE Brasil.

O avanço na tecnologia de combustíveis alternativos trouxe no ano passado para o Rio de Janeiro o Congresso Fuels & Lubricants, da SAE Internacional, pela primeira vez realizado em um país em desenvolvimento. E, agora, a entidade confirmou que em 2009 o Brasil será novamente sede do evento.

A habilidade no desenvolvimento de suspensão de veículos, porém, é quase uma questão de sobrevivência no país.

¿ Temos de criar uma suspensão que garanta conforto e estabilidade, além de ser durável, para um país que tem asfalto esburacado, quebra-molas, valetas e muita estrada de terra. Quando acertamos, ela serve para qualquer outro lugar ¿ explica Carlos Henrique Ferreira, consultor técnico da Fiat.

O acerto de suspensão feito no Stilo brasileiro agradou tanto à matriz que foi adotado na versão européia. Já a PSA Peugeot Citroën levou um brasileiro para a França para fazer os testes das ¿ligações com o solo¿ em seus próximos lançamentos.

Além dos engenheiros, os designers brasileiros também ganham fama e conquistam altos cargos no exterior. Raul Pires criou o novo Bentley Continental GT e é responsável pela personalidade da tradicional marca inglesa. Já Luiz Veiga coordenou os trabalhos de estilo do Fox no Brasil. O compacto fez sucesso na Europa e Veiga hoje é chefe do centro de design avançado da Volks na Alemanha.

Fábrica gaúcha do Celta é copiada pela Cadillac

É aqui também que têm sido testadas novas soluções de manufatura. E os engenheiros brasileiros estão no México e na África do Sul ensinando estrangeiros a lidar com a produção em ¿consórcio modular¿. Já adotado na fábrica de caminhões e ônibus da Volks, em Resende, o sistema põe na linha de montagem os fabricantes de autopeças instalando seus módulos diretamente no veículo.

A linha da GM em Gravataí serviu de exemplo para uma fábrica americana da Cadillac.

¿ Mandamos engenheiros brasileiros filtrar processos em fábricas nos EUA ¿ diz José Eugênio Pinheiro, vice-presidente mundial de manufatura da GM para América Latina, África e Oriente Médio.