Título: Engenharia tipo exportação
Autor: Rogério Louro
Fonte: O Globo, 08/02/2006, Carroetc, p. 1

Brasileiros se destacam mundialmente projetando peças e carros com alta qualidade e baixo custo

Carros americanos, alemães, franceses, italianos, mexicanos ou sul-africanos têm um pouco de jeitinho brasileiro. Com o dom de fazer mágica gastando pouco, nossos engenheiros automotivos estão ganhando boa fama no exterior.

¿ A engenharia brasileira está em um ótimo momento e sendo reconhecida pela coragem de procurar soluções pioneiras e pela competência ¿ afirma Gábor János Deák, presidente da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil).

Quando Gábor, que também é presidente da Delphi América do Sul, fala em soluções pioneiras é possível fazer um retrospecto dos 50 anos da indústria automobilística nacional, completados neste ano. A adaptação brasileira de projetos estrangeiros começou com a sincronização das caixas de marcha dos Simca e dos Aero Willys. E a ousadia teve início ao se adaptar o motor de caminhão Chevrolet em um carro esportivo. No caso o Brasinca 4200 GT, o Uirapuru.

¿ Começamos mexendo em modelos da Europa e depois fazendo carros derivados de veículos estrangeiros, até termos condições de desenvolver automóveis completos ¿ lembra Pedro Manuchakian, vice-presidente mundial de engenharia de produto da General Motors para América Latina, África e Oriente Médio.

O resultado é que, mesmo não sendo a matriz de qualquer grande fábrica de automóveis, o país tem vários veículos desenvolvidos localmente, do Gol ao EcoSport, passando pela picape Montana ou pelo caminhão VW Constellation. Há ainda os vários derivados da linha Corsa e a plataforma, mais interior, da versão nacional do Idea.

O que faz a diferença no talento dos engenheiros locais parece ser a própria realidade cultural e social do país.

¿ Valorizamos a alegria e a praticidade. Além disso, sabemos trabalhar com custos reduzidos ¿ explica Renato Mastrobuono, diretor de desenvolvimento de produtos da Volkswagen Caminhões e Ônibus.

É a capacidade de desenvolver produtos com alta qualidade e custo baixo que inicialmente chama a atenção das matrizes.

¿ Qualidade tem que ter sempre, mas não podemos complicar, senão não sai. Temos de usar a criatividade para fazer mais com pouco dinheiro e isso está sendo reconhecido fora do país ¿ diz Manuchakian.

Assim, a GM do Brasil foi escolhida no ano passado como um dos cinco centros mundiais de desenvolvimento de engenharia do grupo. Atualmente, cabe aos brasileiros adaptar o Hummer H3 para o mercado europeu: é aqui que o projeto do jipão está sendo preparado para receber motor a diesel e direção do lado direito.

Continua na página 3