Título: SERRA SOB PRESSÃO DO PSDB
Autor: Helena Chagas e Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 08/02/2006, O País, p. 3

Cúpula do partido quer que prefeito decida se será candidato em qualquer circunstância

Orefeito de São Paulo, José Serra, será o candidato do PSDB à Presidência se assumir logo a candidatura e assegurar que irá levá-la até o fim, em qualquer circunstância, ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva venha a recuperar mais pontos nas pesquisas de intenção de votos até março. Numa antecipação do processo previsto para o mês que vem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros caciques tucanos vão procurar Serra nos próximos dias para lhe pedir essa definição. Se a resposta for afirmativa, o comando tucano sairá em campo para preparar uma saída para o governador de Sâo Paulo, Geraldo Alckmin, e costurar a unidade em torno de Serra.

O anúncio público de sua candidatura, entretanto, só ocorreria depois do entendimento com o governador, provavelmente após o carnaval, no início de março.

¿ O Serra tem que nos dizer se é candidato hoje e se o será em qualquer circunstância, ainda que o Lula venha a crescer mais alguns pontos nas próximas pesquisas ¿ diz um representante do alto tucanato.

Estão previstas conversas separadas de Fernando Henrique e do governador de Minas, Aécio Neves, com Serra, e de ambos com Geraldo Alckmin. Caso Serra confirme sua disposição de deixar a prefeitura e assumir a candidatura para o que der e vier, a próxima rodada será um encontro da cúpula partidária ¿ com a presença de outros governadores e líderes além de Fernando Henrique, Aécio e do presidente do partido, Tasso Jereissati ¿ com os dois pré-candidatos.

Cúpula quer Serra e Alckmin frente a frente

A idéia seria colocar Serra e Alckmin frente a frente para fecharem o entendimento. Mas isso só ocorreria depois do dia 12, quando o PSDB recebe os resultados de ampla pesquisa qualitativa e quantitativa encomendada para orientar sua decisão sobre a candidatura presidencial. No momento, a avaliação do comando tucano é de que podem ter um candidato competitivo para derrotar Lula, seja ele Serra ou Alckmin.

Mas as últimas pesquisas acenderam um sinal amarelo: além de não poderem mais perder tempo diante de um Lula que se movimenta e cresce, é preciso interromper a disputa interna para que ela não deixe feridas e sequelas que tenham consequências na campanha.

O maior temor dos caciques tucanos é de que a indecisão de Serra acabe por enfraquecer a candidatura do partido. Afinal, o prefeito vem deixando claro seu desejo de se candidatar, mas vem pedindo tempo até o fim de março e ainda não se comprometeu com a candidatura de forma irreversível, nem internamente. Com isso, gera especulações de que, dependendo das pesquisas, poderá desistir de deixar a Prefeitura de São Paulo.

A preocupação com a vacilação de Serra (que estaria vivendo dias de grande angústia) explica recentes e aparentemente estranhas declarações de Fernando Henrique. Nas entrevistas à revista ¿IstoÉ¿ e ao programa ¿Roda Viva¿ ele praticamente desafiou Serra a tomar a decisão de atravessar o ¿buraco negro¿ da incerteza entre a saída da prefeitura e a eleição. ¿Será ele capaz de tomar esta decisão?¿, é o que diz Fernando Henrique.

Caciques do PSDB tentam evitar desgaste interno

Para um intérprete tucano, o ex-presidente estaria mandando um recado a Serra e ao mesmo tempo tentando neutralizar, junto aos ackministas, os sinais de preferência que andou externando por seu ex-ministro.

Os caciques tucanos acham ainda que, se Serra desistir daqui a um mês, depois de todas as expectativas geradas, vai ficar difícil convencer o eleitor de que o PSDB não terá perdido as esperanças de vencer Lula e de que Alckmin não seria um candidato escolhido para perder.

Além disso, o comando do partido se preocupa com o desgaste da disputa Serra-Alckmin, que vem acirrando os ânimos no chamado ¿segundo escalão¿ do partido. Defensores de um de outro vêm subindo o tom da críticas e partindo para os ataques recíprocos. É preciso resolver o assunto antes que a situação piore e seja gerada uma divisão irreversível, dizem os altos cardeais tucanos.

O PFL também pede pressa aos tucanos:

¿ O candidato precisa ser logo conhecido para entrar em campo e dar combate ao Lula ¿ diz o líder no Senado, Agripino Maia (RN).

Tucanos e pefelistas defendem a antecipação da escolha do candidato para que este possa fazer um contraponto mais efetivo a Lula e ainda inicie a costura de alianças.