Título: Lula nega fins eleitorais, mas pacote habitacional tem clima de campanha
Autor: Cristiane Jungblut e Martha Beck
Fonte: O Globo, 08/02/2006, Economia, p. 22

Governo afirma ter investido mais em moradia que administração anterior

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu os que atribuíram um caráter eleitoreiro ao programa de incentivo à habitação lançado ontem, afirmando que não o fizera antes devido a dificuldades orçamentárias. Lula garantiu que não faltarão recursos para habitação até o fim de seu mandato e cobrou vigilância da sociedade para que os benefícios fiscais cheguem de fato ao consumidor final:

¿ Se não fizemos isso antes é porque não podíamos fazer antes. Estamos fazendo agora porque o Brasil está mais preparado para ter o desenvolvimento que é um desejo de todos.

Apesar da justificativa, a cerimônia acabou sendo palco de manifestação pró-reeleição do presidente, com integrantes do Movimento Nacional de Luta pela Moradia gritando palavras de ordem, antes do discurso do presidente: ¿Lula de novo, moradia para o povo!¿

Lula cita Joãosinho Trinta: pobre gosta de luxo

Em clima de campanha, o presidente criticou o discurso dos adversários:

¿ Todos aqueles que imaginaram que poderiam resolver os problemas do Brasil com discurso fácil, sabemos o que aconteceu no Brasil. Preferimos o discurso da sobriedade, da possibilidade. Em poucos momentos da História do Brasil a construção civil teve e tem o destaque que está tendo no nosso governo. Interpretem como quiserem.

Os manifestantes também estavam eufóricos:

¿ Pedimos para ele ser candidato porque precisamos dele para continuar o projeto, e pedimos para ele ser firme. Ele respondeu que sim, que seria porque contava com o apoio popular ¿ contou Edymar Cintra, do Movimento Nacional pela Moradia.

Depois, Cintra se apressou em explicar:

¿ Ele disse que vai continuar firme porque conta conosco. Ele não disse que era candidato, nós é que pedimos.

Lula garantiu que o foco do programa é o ¿setor mais humilhado¿ da sociedade brasileira. E ressaltou que o preço tem que ser bom para todos os produtos, inclusive azulejos, porque o pobre gosta de ¿coisa boa¿:

¿ Como dizia Joãosinho Trinta, quem gosta de miséria é rico, pobre gosta é de luxo ¿ disse o presidente, modificando a frase original: ¿Quem gosta de miséria é intelectual¿.

Com o intuito de mostrar a qualidade do programa, o Planalto acabou criando uma situação delicada: exibiu num telão para uma platéia de ministros uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, sobre os investimentos em habitação neste governo e no anterior, mostrando que em 2002 foram aplicados R$5 bilhões; em 2003, R$5,2 bilhões; em 2004, R$6,2 bilhões; e em 2005, R$9,2 bilhões. Mas o vídeo terminava com uma declaração do secretário-geral do PSDB, Eduardo Paes (RJ), que chamou o pacote de eleitoreiro : ¿O governo (...) juntou um monte de notícias demagógicas, buscando com isso ganhar uns votos¿.

Terminado o vídeo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, tentou desfazer o mal-estar.

¿ Não é o caso de comentar, né? ¿ disse o ministro.

Em discurso, Palocci ressaltou que as medidas não apenas ajudarão a população de baixa renda, mas permitirão que classe média tenha acesso a financiamento. Segundo ele, a desoneração mostra que o governo está cumprindo o compromisso de reduzir a carga tributária:

¿ Este será um ano de redução do risco-país, maior estabilidade da economia, inflação controlada e crescimento vigoroso. A semente que vossa excelência (Lula) plantou permitirá que o Brasil cresça com vigor e equilíbrio.