Título: PRODUÇÃO INDUSTRIAL CRESCEU 3,1% EM 2005
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 08/02/2006, Economia, p. 23

Avanço foi bem menor do que em 2004, quando a alta fora de 8,3%. Em dezembro, expansão foi de 2,3%

A indústria brasileira superou as expectativas dos analistas e cresceu 2,3% em dezembro do ano passado, frente a novembro, já descontados os efeitos sazonais, informou ontem o IBGE. No melhor desempenho desde outubro de 2003, o setor alcançou um patamar recorde no fim de 2005. Com o bom resultado de dezembro, a indústria fechou o ano com alta de 3,1%, uma taxa bem inferior à registrada em 2004, quando o crescimento fora de 8,3%.

Com o resultado de 2005, nos três primeiros anos do governo Lula a produção industrial acumula alta de 11,7%, superando a marca dos quatro anos do segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique, quando a expansão do setor foi de 10,5%. No primeiro mandato FH, a alta acumulada foi de 5,4%.

O crescimento da indústria no ano passado veio graças, principalmente, aos segmentos de bens de consumo. Com a expansão do crédito, bens duráveis como automóveis, celulares e eletrodomésticos tiveram alta de 11,39%, depois de terem crescido 21,85% em 2004.

Já os bens de consumo semiduráveis e não-duráveis (roupas e alimentos, por exemplo) cresceram 4,7% em 2005. Essa foi a única categoria em que a expansão no ano passado foi superior à registrada em 2004, quando a alta fora de 4%.

Segundo Sílvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE, a alta dos não-duráveis se explica pelo aumento da massa salarial (soma dos rendimentos de todos os trabalhadores). E também pelo avanço do crédito e o recuo da inflação, sobretudo nesses produtos. Os preços dos alimentos, por exemplo, subiram só 2% em 2005.

Alta dos juros afetou desempenho da indústria

Os bens de capital ¿ máquinas e equipamentos usados para ampliar a produção e que indicam o comportamento dos investimentos ¿ subiram 3,6% em 2005, mais do que a média da indústria. Sérgio Vale, economista da MB Associados, destaca que essa expansão, porém, foi concentrada em máquinas para a construção e para o setor de energia. Segundo ele, a maior parte desses bens foi exportada ou destinada à produção de commodities, como, por exemplo, guindastes para a extração de petróleo.

Com a alta de 2005, a indústria mantém seu crescimento há seis anos. É o ciclo mais longo de expansão desde o milagre econômico dos anos 70.

Mas a alta dos juros, iniciada em setembro de 2004, afetou o setor. No primeiro semestre de 2005, a indústria cresceu 3,1%, e nos seis últimos meses do ano a expansão foi de só 1,4%.

¿ O crescimento menor da indústria em 2005 é uma resposta ao aperto monetário ¿ disse Estêvão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Com a recuperação da indústria em dezembro ¿ quando a expansão foi de 2,3% frente a novembro e de 3,2% na comparação com o mesmo mês do ano passado ¿ alguns economistas já estão revendo suas projeções para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto de todas as riquezas do país) em 2005. Solange Srour, da Mellon Global Investment, agora prevê um PIB de 2,5%, contra uma estimativa anterior de 2,2%.

O bom desempenho da indústria em dezembro pode indicar que o ciclo de ajuste de estoques no setor estaria chegando ao fim, diz Sales, do IBGE. Depois de um segundo trimestre de expansão na produção industrial (2% na comparação com o período anterior, já com ajuste sazonal), houve uma queda de 0,4% no terceiro trimestre, porque havia um excesso de estoques nas indústrias. O último trimestre do ano fechou com alta de 1%. Em dezembro, o crescimento foi generalizado, com alta em 21 dos 23 ramos pesquisados pelo IBGE.