Título: INCENTIVO A ESTRANGEIRO DEVE SAIR SEMANA QUE VEM
Autor: Patricia Duarte e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 08/02/2006, Economia, p. 25

Lula se reuniu ontem com representantes do mercado financeiro para discutir medidas, que incluem isenção de IR

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar na próxima semana um pacote de medidas de incentivo fiscal para investidores estrangeiros que aplicam no mercado financeiro brasileiro. Lula chamou ontem empresários e representantes do setor financeiro para ouvir opiniões sobre os estudos, que incluem a isenção de Imposto de Renda (IR) sobre ganhos de capital para esses investidores e a criação de uma espécie de conta-investimento, que isentaria da CPMF as movimentações dos estrangeiros entre aplicações dentro do país ¿ passando de ações para títulos públicos, por exemplo.

¿ A tendência do presidente é favorável (ao projeto), mas pediu para ampliar o debate e deve decidir tão logo retorne da África ¿ afirmou o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Senado, que participou ontem de reunião com representantes do mercado, referindo-se à viagem iniciada ontem por Lula e que durará até domingo.

De modo geral, os representantes do mercado financeiro e do setor produtivo apoiaram os estudos, já anunciados pelo ministro Antonio Palocci (Fazenda), também presente ao encontro. De acordo com o presidente da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), Manoel Felix Cintra Neto, Lula informou que os estudos estão bem adiantados e que está sendo analisada a possibilidade de isentar de CPMF o capital estrangeiro que queira investir no Brasil em novos lançamentos de ações de empresas.

¿ Os investidores já deram ¿grau de investimento¿ para o Brasil, antes mesmo das agências de classificação de risco. Há muito interesse dos investidores estrangeiros em ficar aqui, sobretudo com títulos públicos ¿ defendeu Félix.

Para Félix, a atração de mais investidores internacionais pode ajudar a baixar os custos da dívida e elevar os prazos, com a maior demanda que seria criada.

Dólar tem leve alta e fecha cotado a R$2,188

Presente à reunião de ontem, onde estava também Joaquim Levy (secretário do Tesouro Nacional), o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, defendeu que o investidor nacional não estaria sendo prejudicado com essas medidas porque, normalmente, o pagamento de IR é sempre feito no país de origem de cada investidor.

Após a forte recuperação da véspera ¿ influenciada pela expectativa de alívio fiscal para investidores estrangeiros ¿ o mercado financeiro teve ontem um dia de correção nos preços dos ativos. O dólar oscilou bastante durante todo o dia e fechou em ligeira alta (0,14%), cotado a R$2,188 para venda. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu 2,04% e o risco-Brasil, indicador da confiança dos investidores estrangeiros no país, avançou 2,35%, para 261 pontos centesimais. Já o Global 40 caiu 0,58%, cotado a 129,3% do valor de face.

A produção industrial mais forte que o esperado (em dezembro, houve um avanço de 2,3%) também gerou um clima de apreensão entre os investidores, já que a expansão maior poderia reduzir o ritmo de queda dos juros. Com isso, as taxas projetadas nos contratos com vencimento em janeiro de 2007 ¿ os mais negociados no mercado futuro ¿ subiram de 15,68% para 15,74% ao ano.

COLABOROU: Patricia Eloy