Título: ONU AVALIA PAPEL DE MISSÃO DE PAZ APÓS NOVO GOVERNO
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 08/02/2006, O Mundo, p. 28

Redução do contingente militar está condicionada a melhoria na segurança. País terá divisão anti-seqüestro

NOVA YORK. O Conselho de Segurança da ONU recebeu informações detalhadas sobre as eleições no Haiti e terá nos próximos dias reuniões diárias para acompanhar a transição até a posse do novo governo, período considerado extremamente delicado. Os 15 membros do conselho analisarão também o pedido de renovação por seis meses da missão de paz, cujo mandato expira na próxima quarta-feira.

Num relatório divulgado ontem, o secretário-geral, Kofi Annan, pediu que a composição das tropas seja mantida inalterada até a instalação do novo governo, com posse marcada para o dia 29 de março.

Missão deverá assumir papel de ajuda ao desenvolvimento

Assim que as condições de segurança permitirem, a idéia é que a missão reduza o contingente militar e evolua para uma ajuda ao desenvolvimento do país, com prioridade para a reforma da polícia, do judiciário e das prisões. No relatório sobre a missão, Annan apontou avanços na redução da violência mas considerou ainda preocupante a onda de seqüestros em Cité Soleil. Segundo diplomatas, um grupo de policiais da ONU está estruturando uma divisão anti-seqüestro no Haiti, nos moldes da Divisão Anti-Seqüestro da polícia do Rio.

A ONU reconhece que a profissionalização da polícia haitiana será longa e precisará de ajuda da comunidade internacional. Mas isso não impedirá a redução do atual contingente militar, de 7.500 soldados, maior fonte de gastos da missão no Haiti.

Temor de reação violenta ao resultado das eleições

A avaliação é que a missão de estabilização deveria continuar no país por pelo menos uma década, mas sua composição seria alterada.

¿ Uma estabilidade a longo prazo depende da manutenção da ajuda da comunidade internacional ¿ disse Hédi Annabi, vice-diretor do Departamento de Operações de Manutenção da Paz.

O grande temor da ONU era de que episódios de violência nas eleições servissem de argumento para os derrotados não aceitarem o resultado. Mesmo com os primeiros relatos de que a votação transcorria em paz, funcionários da ONU acham que o país passará por um novo momento de tensão na sexta-feira, quando a apuração dos votos deve acabar. Provavelmente será necessário um segundo turno, mas a reação dos políticos aos primeiros resultados das urnas permitirá avaliar as possibilidades de ser instalado um governo de coalizão.

¿ Espero que todos os candidatos mostrem tolerância e cortesia, independentemente do resultado, engajando-se na criação de um futuro estável e democrático ¿ apelou Annabi.