Título: CENÁRIO INDEFINIDO
Autor:
Fonte: O Globo, 09/02/2006, OPINIÃO, p. 6

Os resultados da produção industrial de dezembro, divulgados pelo IBGE, surpreenderam pois registraram forte recuperação em relação ao mês anterior. Mas em relação a 2004, o crescimento acumulado da produção industrial no ano passado foi de 3,1%, sendo que a indústria da transformação evoluiu apenas 2,8%, graças à contribuição de alguns segmentos, como o setor automotivo. Os números são animadores porque já refletem a melhora na massa salarial e a inversão na curva das taxas de juros. No entanto, os especialistas chamam a atenção de que o ritmo de crescimento da indústria diminuiu quando observados os dados de 2004 e talvez seja cedo para se afirmar que saímos de um processo espasmódico. Nesse sentido, a maioria das previsões para o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano se mantém abaixo de 4%, com exceção do próprio governo, cuja expectativa pode estar sendo influenciada pela proximidade das eleições gerais. O desempenho da indústria vem sendo heterogêneo, com alguns setores apresentando resultados espetaculares e outros demasiadamente fracos. Tamanha disparidade parece encontrar explicação na trajetória das taxas de juros e do câmbio. Setores que conseguem exportar ou têm mais facilidade de crédito vão aproveitando as oportunidades surgidas tanto no mercado externo como no doméstico, enquanto os demais são barrados na entrada do baile. Os diversos segmentos da economia não costumam ter um desempenho uniforme, mas também não é natural que apresentem comportamentos tão díspares. Com a queda da taxa de juros e outras reformas microeconômicas que possibilitem, por exemplo, uma redução progressiva da carga tributária, o ambiente econômico caminhará para um quadro que poderá ser considerado mais normal. Dessa forma, mesmo que o crescimento econômico em 2006 não passe dos desejados 4%, a economia brasileira deverá obter este ano avanços qualitativos, pois a conjuntura começa a favorecer investimentos, sem os quais o PIB não apresentará taxas de expansão mais relevantes.