Título: GOVERNO CONSIDERA ARGÉLIA ESTRATÉGICA
Autor: Maria Lima e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 09/02/2006, O PAÍS, p. 8

Para o Brasil, relação com país pode abrir porta para o mundo árabe

ARGEL. De olho numa importante porta de entrada para os produtos brasileiros no mundo árabe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou ontem em Argel, capital da Argélia, acompanhado do ministro da Indústria e Comércio Luiz Fernando Furlan. O Brasil também tem interesse em grandes obras de infra-estrutura e na suspensão de barreiras impostas à carne brasileira desde a descoberta de focos de aftosa em outubro. Na primeira etapa desta viagem a quatro países africanos, Lula foi recebido com uma grande festa organizada pelo presidente Abdelaziz Bouteflika, que pôs a visita de Lula no mesmo nível da visita do presidente francês Jaques Chirac, em 2003. Para o governo brasileiro é politicamente emblemático estreitar as relações com a Argélia, estrategicamente localizada entre a Europa, os países árabes e África. Segundo Furlan, se o Brasil entra na Argélia, pode influenciar todo o entorno argelino.

Empreiteiras disputam obra de US$7 bilhões em Argel

Ao final de quase três horas de reunião de Lula com o presidente Bouteflika, o chanceler Celso Amorim e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Argélia, Mohamed Bedjaui, assinaram um acordo para facilitar e diversificar as trocas comerciais entre os dois países. Neste acordo, a Argélia aproveita o fato de não integrar a Organização Mundial do Comércio para oferecer condições facilitadas, como a oferta de taxação privilegiada para produtos. Em troca, o país quer o apoio do Brasil para obter uma cadeira na OMC. Antes da chegada de Lula, já estavam em Argel empresários das empreiteiras Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez. Cobiçam os US$60 bilhões que o governo argelino reservou para grandes obras de infraestrutura, entre elas a bilionária construção da estrada litorânea transmagrebiana, orçada em US$7 bilhões. As duas empresas participam da concorrência. Além da estrada, há negociações para a venda de aviões AMB 170, da Embraer, para a Argélia, e para a ampliação de parcerias entre a Petrobras e a empresa petroleira argelina Sonatrach. O governo brasileiro pretende reverter o déficit negativo de R$2,4 bilhões na balança comercial entre os dois países. Entre 2004 e 2005 as exportações da Argélia para o Brasil cresceram 40%, puxadas pelo petróleo. As exportações brasileiras cresceram apenas 10%. (Maria Lima)