Título: VARGEM GRANDE TEM 4 FOCOS DA `AIDS EQÜINA¿
Autor: Elenilce Bottari
Fonte: O Globo, 09/02/2006, RIO, p. 14

Região volta a ter estabelecimentos interditados. Neste início de ano 11 animais doentes já foram sacrificados no estado

O surgimento, em janeiro deste ano, de cinco focos de anemia infecciosa eqüina (AIE) na cidade, quatro deles em haras e sítios de Vargem Grande e um em Santa Cruz, acendeu o alerta entre criadores da região e do estado para o problema da doença ¿ considerada a Aids dos cavalos, altamente contagiosa e letal. Criadores de haras de Vargem Grande e Ilha de Guaratiba iniciaram esta semana uma campanha de esclarecimento para incentivar outros proprietários a fazer exames de sangue em seus animais, a fim de evitar um surto. Segundo o Ministério da Agricultura, nos últimos seis anos 636 cavalos foram sacrificados em todo o estado, após serem diagnosticados com a doença. De 2000 a 2005, os exames realizados subiram de 25.657 para 38.610, e o número de casos constatados saltou de 59 para 139. Neste início de ano foram detectados em todo o estado nove focos, que levaram o Ministério da Agricultura a sacrificar 11 animais doentes. Além dos casos descobertos na capital, foram localizados focos em Miracema, Carmo, Campos e São José do Vale do Rio Preto.

Cavalos são grandes geradores de empregos

Ontem à tarde uma comitiva partiu do Haras Pégasus, em Vargem Grande, em visita a sítios da região. O haras já passou pelo problema há cerca de dois anos. ¿ Sem controle, a doença será disseminada. Isso é grave porque o cavalo é o terceiro maior gerador de empregos do mundo, mais até do que a indústria automobilística. Um único cavalo pode manter o sustento de uma família de quatro pessoas ¿ explicou o veterinário Wander Guimarães, responsável pelo haras e membro do Conselho estadual de Controle da AIE. De acordo com o último Censo do IBGE (2000), há 80 mil cavalos registrados no estado. Segundo Everardo Duarte Machado, coordenador no estado do Programa de Prevenção e Controle da AIE do ministério, o maior problema está nos animais criados nas ruas, cujos donos muitas vezes não têm condições de pagar pelo exame, que custa em média R$25. Eles acabam transmitindo a doença para haras e fazendas vizinhas. Para incentivar carroceiros e outros pequenos proprietários a fazer os exames em seus animais, está em estudo no Centro de Controle de Zoonoses um projeto de doação. ¿ Nos casos de o exame dar positivo, o cavalo doente seria sacrificado e o dono receberia um outro como doação para não perder o sustento ¿ explicou Wander Guimarães. Um dos estabelecimentos de Vargem Grande interditados em janeiro é o haras Horse Shoe, onde foi constatado um caso após a realização de exames em seus 79 cavalos. ¿ Havia um foco num sítio em frente, onde quatro animais estavam infectados. Em razão disso, o dono do haras mandou verificar, constatando um único caso. Agora estamos aguardando a chegada de março para fazer novos exames. Se nenhum outro caso for constatado, o haras será desinterditado ¿ disse o veterinário do haras, Carlos Alexandre Gonçalves. De acordo com a legislação, os proprietários não são obrigados a fazer exames de AIE, salvo nos casos de transporte do animal entre centros hípicos ou quando um foco é descoberto em algum estabelecimento. O estado tem 30 laboratórios autorizados pelo Ministério da Agricultura para a realização de exames. Uma vez detectada a doença, o laboratório é obrigado a notificar o ministério, que sacrifica o animal doente e interdita por um prazo mínimo de 60 dias o local afetado. Para Everardo Machado, do Ministério da Agricultura, o número de notificações de casos vem aumentando no estado nos últimos anos, à medida em que aumentam os exames realizados: ¿ É importante que proprietários e criadores tenham consciência da importância dos exames para controlar a doença e evitar a morte de centenas de animais. Trabalhando há 15 anos como carroceiro, Roberto Carlos Farias diz que o cavalo é o melhor amigo do homem e também de sua família: ¿ Eu tenho mulher e dois filhos e dá para manter a casa com este trabalho. Já tenho três cavalos. Trato todos muito bem e gosto deles como se fossem da família. Espero que nunca peguem esta doença.