Título: VIOLÊNCIA E IMAGEM DO RIO PREJUDICAM TURISMO
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 09/02/2006, ECONOMIA, p. 28

Fecomércio diz que empresário é obrigado a investir em segurança e, sem o problema, expansão de 2,4% em janeiro seria maior

A violência do Rio e a imagem da cidade, muitas vezes atrelada a pobreza e poluição nas praias, vêm prejudicando o turismo carioca. E, em conseqüência, os negócios da Zona Sul do Rio. Essas preocupações ficaram claras na pesquisa ¿Impacto do turismo no comércio¿, feita pelo Instituto Fecomércio-RJ em 400 estabelecimentos comerciais localizados do Leme ao Leblon. Os turistas ¿ nacionais e estrangeiros ¿ respondem por boa parte dos lucros do verão e também pela expectativa otimista para o mês passado: o faturamento de janeiro deve crescer 2,4% sobre janeiro do ano passado. ¿ Se não fossem problemas como esses, o crescimento do comércio teria sido maior. Para se ter idéia, a violência prejudica tanto que hoje o próprio empresário investe na segurança em seus negócios ¿ explica Clarice Messer, diretora do instituto, lembrando que o Rio de Janeiro é a porta de entrada de um terço dos turistas que chegam ao país. Os dados da sondagem indicam ainda que o turista gasta no varejo 53% a mais do que quem mora da cidade. Isso, segundo a Fecomércio-RJ, é um avanço sobre janeiro de 2005, quando essa diferença já chegava a 45,4%. ¿ O comércio observa, de um lado, a estabilidade do gasto médio do turista (R$165) e, do outro, a queda do consumo médio do morador (de R$113 para R$107). E, com isso, o varejo percebe que há um forte potencial de compra vindo de fora da cidade que favorece as vendas ¿ afirma Clarice.

Dólar e carnaval levam morador a gastar menos

O economista Paulo Bruck, também da Fecomércio-RJ, lembra que os gastos dos moradores caíram por razões como queda de preços em alguns artigos importados ¿ que foram influenciados pela cotação baixa do dólar. E o carnaval mais à frente também inibiu os gastos em janeiro. Mas, de acordo com a diretora da entidade, os gastos dos turistas poderiam ser ainda maiores. Para 84,9% dos empresários ouvidos no levantamento, a impossibilidade de aceitar moeda estrangeira na empresa limita os gastos na casa. O fato, continua ela, pode levar a procedimentos informais. E, por isso, uma saída seria ampliar a atuação das casas de câmbio, disse ela. ¿ Além de ter poucas casas de câmbio na cidade, o turista não pode trocar seu dinheiro em qualquer agência bancária. Ou mesmo agência de turismo. O ideal, portanto, seria ampliar, a exemplo de países como a Argentina, os horários de atendimento dessas casas de câmbio, por exemplo. Inclusive que acompanhassem os horários de funcionamento dos shoppings. Não é preciso sequer legislação nova para mudar esse cenário, comenta Clarice, frisando que o cartão de crédito não atende a todas as necessidades dos clientes.

Fluência na língua inglesa é entrave para comércio

A questão cambial não é a única pedra no sapato dos empresários, mostrou a entidade. Para 9,4% dos empreendedores, outro entrave para as vendas é não ter funcionários com fluência em inglês. ¿ O estabelecimento sente dificuldade em encontrar esse profissional e, quando o encontra, enfrenta a questão salarial, já que a remuneração sobe quando há mais capacitação. Apesar da queixa, 77,7% dos empresários que atendem turistas estrangeiros se disseram aptos para tal ¿ um pequeno recuo frente a janeiro de 2005 (79,2%). Atender bem ao estrangeiro significa ter funcionário que fala inglês (para 93,1% dos ouvidos) e cartazes em inglês (para 23,8%).