Título: Dinamarca acusa grupo de clérigos islâmicos
Autor: Vivian Oswald
Fonte: O Globo, 09/02/2006, O MUNDO, p. 29

IMAGENS POLÊMICAS: MINISTRA DINAMARQUESA DIZ QUE SÓ QUER DISCUTIR INCLUSÃO DE MINORIAS COM IMÃS FAVORÁVEIS À IDÉIA

Religiosos contrários à integração teriam provocado protestos ao divulgarem caricaturas em viagens ao Oriente Médio

COPENHAGUE. Longe do fim, a crise desencadeada no mundo muçulmano após a publicação das 12 charges de Maomé pelo jornal dinamarquês ¿Jyllands-Posten¿ continua provocando faíscas num cenário altamente inflamável. Um dia depois de o primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Rasmussen, pedir calma e reiterar que nem o governo nem o povo dinamarquês tiveram a intenção de ofender os muçulmanos, a ministra de Imigração e Integração, Rikke Hvilshoj, destacou que deixará um grupo de imãs fora das discussões sobre a integração de minorias no país. Eles seriam considerados o estopim da fúria despertada contra a Dinamarca. Políticos, especialistas e a própria mídia local atribuem a estes personagens boa parte da responsabilidade pelos recentes episódios de violência contra as embaixadas dinamarquesas em países do Oriente Médio, que acabaram levando à morte de 14 pessoas. Embora as charges tenham sido publicadas em 30 de setembro do ano passado, só agora, mais de quatro meses depois, as reações tomaram vulto e se espalharam pelo mundo. À época, foram registradas algumas manifestações no país e houve pedidos de explicações por parte de embaixadores do mundo muçulmano. Mas o que dizem os políticos é que teria sido após a viagem de alguns imãs pelo mundo árabe ¿ onde teriam retomado o assunto e mostrado as caricaturas ¿ que se propagaram e intensificaram as reações. ¿ Acho que agora vemos claramente que não é nos imãs que devemos depositar nossa confiança se quisermos que a integração na Dinamarca funcione ¿ disse a ministra. Segundo seu porta-voz , Thomas Harder, o governo só vai conversar com quem estiver disposto a discutir a integração. ¿ O governo convidou alguns imãs para uma reunião em setembro do ano passado, mas eles não quiseram comparecer. Essa discussão só vai acontecer com aqueles que estiverem interessados na integração. E existem vários grupos que querem, de várias origens. São dinamarqueses como quaisquer outros que não querem ver as suas bandeiras queimadas no exterior ¿ disse ele ao GLOBO. No dia 10 de janeiro, um jornal norueguês reproduziu os desenhos aos seus leitores. Cerca de 20 dias depois, foi registrada a primeira reação contra o escritório da União Européia (UE) na Faixa de Gaza exigindo uma retratação. No dia 1º de fevereiro, publicações em França, Alemanha, Itália e Espanha também reproduziram as caricaturas, levantando uma discussão sobre a liberdade de expressão. A partir daí, foi desencadeada uma reação em cadeia em vários países muçulmanos.

Jornal desmente que publicará charges

Em meio a uma crise que tem despertado um debate apaixonado, o ¿Jyllands-Posten¿ negou a informação da rede de TV americana CNN ¿ atribuída ao editor de Cultura do jornal, Flemming Rose ¿ de que seriam publicadas as caricaturas do Holocausto anunciadas por uma publicação iraniana em represália aos desenhos do profeta Maomé. O jornal dinamarquês ¿Information¿ publicou declarações da deputada Pia Kjaersgaard, conhecida por sua posição antiimigração. Ela afirmou que ¿todos os líderes muçulmanos devem respeitar o fato de eu não acreditar em seu livro sagrado ou em seu profeta.¿