Título: `O mais importante foi a consciência popular¿
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 09/02/2006, O MUNDO, p. 29

PORTO PRÍNCIPE. Comandante militar da missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), o general brasileiro José Elito Carvalho Siqueira, acordou às três horas da madrugada na terça-feira e permaneceu o dia em seu QG, num hotel de Porto Príncipe, monitorando a votação. Em entrevista ao GLOBO, ele disse ontem que as eleições foram um "grande sucesso".

As eleições foram do jeito que o senhor esperava? JOSÉ ELITO CARVALHO SIQUEIRA: Do ponto de vista da segurança, sim, correu tudo muito bem. As eleições foram adiadas quatro vezes no ano passado, de modo que houve tempo para organizá-las. Por que então os haitianos tiveram que esperar tantas horas para votar?

ELITO: Essa pergunta você teria que fazer ao conselho eleitoral, porque eles é que fizeram o planejamento técnico das eleições. Não foi desejável, claro, que um local que deveria abrir às 6h não abrisse, atrasasse. Isso causou alguns problemas locais. Acontece em qualquer lugar do mundo, mas não era desejável que acontecesse.

O senhor já tem o balanço de mortos e feridos durante a votação? ELITO: Tenho informações policiais. Foram três ou quatro mortes aparentemente confirmadas, inclusive uma ou duas naturais. Comparando com os 8,5 milhões de pessoas no país e os 3,5 milhões de eleitores, creio que isso realmente foi um grande sucesso, apesar, claro, de lamentar a perda dessas pessoas.

As eleições foram, então, um grande sucesso? ELITO: Absolutamente um grande sucesso. Mesmo num show como nós tivemos no Brasil na semana passada tivemos algumas mortes num ambiente altamente alegre e descontraído. Então, pelo número de pessoas que infelizmente faleceram, nesse nível foi também um ótimo resultado.

Apesar dos tumultos e das mortes, não houve violência de gangues. A que o senhor atribui isso? ELITO: Creio que o mais importante foi a própria consciência popular dos que resolveram participar. Essas pessoas (das gangues) talvez tenham ficado inibidas com o movimento tão espontâneo e feliz de toda a população.

O senhor acha que pode ter havido um acordo entre gangues e partidos políticos, especialmente o Lespwa (Esperança), do candidato favorito Renée Préval? ELITO: Isso é um assunto sobre o qual não tenho conhecimento e não vou dar opinião.

Que tipo de reação o senhor espera de quem perder as eleições? ELITO: Reações naturais de qualquer situação dessa natureza. É um país com grandes contrastes.

A reação no Haiti costuma ser os vencedores perseguirem os derrotados que, por sua vez, boicotam os vencedores... ELITO: Não quis dizer isso. São reações espontâneas de quem perdeu e quem ganhou. A que nível chegarão essas reações não podemos prever. Mas temos que estar preparados para ajudar a população, que é o mais importante. (D.W.)