Título: O BAIANO QUE DEU A VOLTA POR CIMA
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 10/02/2006, O PAÍS, p. 3

José Fernandes conseguiu primeiro lugar em medicina

SALVADOR. O baiano José Fernandes Neto, 18 anos, foi um dos milhares de vestibulandos que se sentiram prejudicados no primeiro semestre de 2005 pelo sistema de cotas implantado em algumas universidades. Apesar de ter ficado em centésimo lugar para medicina na Universidade Federal da Bahia ¿ que destina 160 vagas ao curso ¿ ele não entrou, porque a UFBA reserva 45% das suas vagas para os cotistas, no caso 88 do total. No semestre seguinte ele tentou novamente e foi o primeiro colocado. ¿ Perder o primeiro vestibular foi decepcionante porque tinha estudado muito. Mas pior que ser barrado foi ver gente com classificação muito abaixo da minha entrar como cotista. Os pais de José Fernandes, funcionários públicos, residentes na pequena cidade de Ipiaú, a cerca de 360 quilômetros da capital, com pouco mais de 40 mil habitantes, iniciaram uma batalha judicial para garantir o ingresso do filho na instituição. Ganharam alguns rounds, perderam outros, mas o rapaz não desistiu. Reiniciou os estudos e decidiu que entraria na UFBA de qualquer jeito. ¿ Estudei feito um louco. Abri mão de muita coisa, quando lembro nem acredito. O resultado de tanto esforço veio na listagem com o resultado dos aprovados no final de 2005. Já na primeira etapa das provas ele ficara em 17º lugar. Prometeu à família ser o número um na etapa final, e cumpriu. José Fernandes não é contrário às cotas, mas entende que os critérios devem ser reavaliados. Não considera justo que um aluno pobre prejudique outro com situação similar por ser negro. O mérito por ter cursado o ensino médio em colégio particular, a seu ver, é dos pais se sacrificam para dar uma educação melhor aos filhos. O procurador Sidney Madruga, do Ministério Público Federal na Bahia, disse acreditar na existência de outros casos de fraude contra o sistema de cotas, a exemplo dos dois identificados recentemente na Universidade Federal da Bahia. O procurador informou que vai encaminhar até a próxima segunda-feira um ofício ao Ministério da Educação, assim como às demais procuradorias do país, para que cobrem investigações rigorosas nas instituições que já adotaram o sistema, sejam elas federais ou estaduais.