Título: LULA CHEGOU A PENSAR EM TIRAR SOLDADOS DO HAITI
Autor: Maria Lima e De
Fonte: O Globo, 10/02/2006, ECONOMIA, p. 29

Presidente diz ter mudado de idéia após ver documentário sobre massacre e que brasileiros não têm data para voltar

ARGEL e PORTO PRÍNCIPE. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que chegou a pensar em retirar as tropas brasileiras do Haiti logo após as eleições, mas mudou de idéia. O alto comparecimento na eleição haitiana foi comemorado ontem pelo presidente como a melhor notícia do dia. Ele considera o pleito a primeira etapa cumprida da missão de paz, mas declarou que, por enquanto, não há prazo para os soldados brasileiros retornarem.

Perfil de efetivo militar no país pode mudar, diz Amorim

Lula contou que mudou de opinião sobre a data da retirada depois de assistir a um documentário sobre o massacre em Ruanda, em 1994, após a retirada das tropas da ONU. Logo após o suicídio do general brasileiro Urano Bacellar, o ministro da Defesa, José de Alencar, declarou que o retorno das tropas brasileiras poderia ocorrer este ano, passadas as eleições. - Esta etapa da eleição foi cumprida com sucesso, mas foi só o primeiro passo. É preciso que o Brasil continue contribuindo para o fortalecimento das instituições no Haiti. Antes de conhecer o acontecido em Ruanda, eu achava que o Brasil deveria sair logo depois da eleição. Mas depois que vi que após a retirada das tropas de Ruanda aconteceu uma carnificina que eu jamais imaginei que pudesse existir, acho que o Brasil precisa dar ainda mais uma contribuição para só sair com as coisas acertadas - declarou Lula. Ele disse que a permanência das tropas dependerá do governo eleito. - Obviamente que se o novo presidente disser "está na hora", nós tranqüilamente vamos embora, pois a missão estará cumprida. Certamente, quando nossos soldados voltarem, voltarão com a cabeça erguida, com o orgulho do dever cumprido. Mas não têm prazo para voltar. Segundo o chanceler Celso Amorim, há a possibilidade de mudança do perfil do efetivo militar de 1.200 homens. Pode haver redução da tropa e reforço no envio de especialistas na área de saúde e construção civil. - É preciso que criem sua própria polícia e fortaleçam suas instituições antes da saída da tropa de paz - disse Amorim. O representante especial da ONU no Haiti, o chileno Juan Gabriel Valdés, disse ontem que as tropas de paz devem permanecer no país "por muito tempo", até que as instituições haitianas possam caminhar com as próprias pernas. O comandante militar da missão, o general brasileiro José Elito Carvalho Siqueira, também defende a permanência das tropas, embora evite fixar prazos. Para Elito, a presença militar internacional é indispensável pelo menos durante o primeiro semestre de 2006. O presidente eleito do Haiti tomará posse no dia 29 de março.